Dom Lourenço Fleichman OSB
O que deve ser o voto de Feliz
Natal de um padre, de uma Capela como a nossa a todos os nossos fiéis, a todos
os nossos amigos e leitores? É de praxe e de bom tom trocar votos de
felicidades nesta data do nascimento do Menino Jesus. E fazemos bem. Pois no fundo
de nossas almas paira ainda a teologal esperança que avança sem tréguas em meio
ao mar revolto deste mundo. Servirão os votos que damos e recebemos, pois de
alguma forma as pessoas precisam da paz natural para viver em sociedade.
Mas é esse lado natural o que me
incomoda. E onde está a realidade sobrenatural do Natal? Onde encontraremos,
perdidos e abandonados nos cantos das ruas, os santos de outrora, que talvez
corressem agitados, preparando tudo, organizando os mínimos detalhes de uma
festa sem fim: Et Verbum caro factum est! Pois o Verbo se encarnou e
habitou entre nós. O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade,
recebe uma natureza como a nossa para nascer na manjedoura em Belém. E onde
estão as almas admiradas e contemplativas para fugir doshopping, largar as
bolsas de compras, os presentes dos filhos, o novo celular, e correr
desembestado por um estacionamento entupido..... Ah! Ele nasceu, eu vi a
estrela, eu vi o Menino. Hosanna in excelsis! Eu vi, eu compreendi o
que acontece. Por que não nos dizem isso? Onde estão os padres, onde estão os
bispos, onde está o sangue católico, que já não corre nas veias dos homens,
para nos dizer, para nos lembrar que o louco não sou eu que corri feito doido largando
tudo no chão; os loucos são eles, que estão lá dentro, fazendo compras e mais
compras; os doidos são eles, que, mesmo quando criticam o esvaziamento do Natal
católico, não param para meditar no Mistério dos mistérios, na candura e
inocência, na paz... na paz... Para que foi mesmo que ele nasceu? Para nos
trazer a paz...