o padre Dalmo nos apresenta o que
a nossa Igreja fala sobre este assunto. Acompanhe:
1. Padre Dalmo, os Evangélicos
dizem que nós, os Católicos, estamos equivocados em rezar pelos mortos. Qual
resposta podemos dar a esta opinião?
1. “Cristo ressuscitou dos mortos
como primícias dos que morreram”. As primícias eram os primeiros frutos da
terra ou do gado que, oferecidos ao Senhor, simbolizavam toda a colheita e todo
o rebanho. Assim, o Cristo ressuscitado nos representa a todos e é a garantia
da nossa ressurreição: nele, já ressuscitamos, nele a nossa glorificação é uma
certeza!
2. “Porém, cada qual segundo uma
ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias”. A frase é
importante porque deixa claro que Cristo é o modelo, o princípio e a causa da
nossa ressurreição: ressuscitaremos por causa dele, ressuscitaremos nele,
ressuscitaremos como ele e ressuscitaremos para ele!
2. Quais passagens bíblicas podem
fundamentar a oração pelos mortos?
No Antigo Testamento podemos ler
em II Macabeus, 12,43-45, o seguinte:
"Depois, tendo organizado
uma coleta [Judas Macabeu], enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de
prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim
absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se
ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima
recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e
piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu
pecado."
Creio que não precise comentar
essa passagem. Porque vai ser um texto anterior ao Cristianismo e que remonta
já a fé na Ressurreição. Quem escreveu ainda não sabia o que era de fato a
Ressurreição, mas esta era uma esperança e segunda esta haveria o perdão dos
pecados após a morte.
Quando nós abrimos o Novo
Testamento em II Timóteo, I, 18, encontramos São Paulo que reza por um
amigo:
"Que o Senhor lhe conceda
achar misericórdia junto ao Senhor naquele Dia."
Comparando os versículos 15 a 18
do capítulo I dessa epístola, com o versículo 19 do capítulo IV da mesma carta,
vê-se que Onesíforo já era morto, porque nesses textos o Apóstolo se refere
nominalmente a outras pessoas, e quando seria o caso de nomear Onesíforo, seu
grande amigo e benfeitor, ele não o faz, mas só se refere "à família"
de Onesíforo. Dai se conclui que ele não era mais do número dos vivos. E São
Paulo reza por ele, pedindo que o Senhor tenha dele misericórdia.
Vale ressaltar que as orações
pelos mortos se sustentam na fé de que seja possível uma purificação dos
mortos. E a isto, a Igreja chama de Purgatório.
3. Qual a relação entre a Oração
pelos mortos e o Purgatório?
Purgatório é o lugar de
purificação em que os espíritos dos justos, que não se santificaram
suficientemente neste mundo, hão de completar a sua purificação, "por
intervenção do fogo", para serem admitidas no Céu, "onde nada de
impuro entrará" (Apocalipse 21, 27). É, pois, o "lugar" em
que os justos que morrem na amizade de Deus (estado de graça), mas
com alguma dívida, por culpas leves, ou por culpas graves já perdoadas, mas não
suficentemente expiadas, se purificam inteiramente para entrar na visão e posse
de Deus. Ali gozarão para sempre da sua perfeita felicidade na glória celeste.
Agora, só a alma. E depois da ressurreição da carne, todo seu ser.
4. Existem passagens bíblicas que
sustentam o que a Igreja chama de Purgatório?
Um fogo que salva - na 1º
Epístola de São Paulo aos Coríntios (I Coríntios III, 11-15) lemos:
"Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso do que foi posto:
Jesus Cristo. Se alguém sobre esse fundamento constrói com ouro, prata, pedras
preciosas, madeira, feno ou palha, a obra de cada um será posta em evidência. O
Dia a tornará conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o
que vale a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistir,
o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada
perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através
do fogo."
A Igreja sempre entendeu esse
texto como uma menção indireta e muitos vão opor a este texto o de Hebreus 9,
27 que afirma que logo após a morte, vem o juízo ao homem, mas este texto não
pode ser lido isoladamente porque o próprio Jesus fala de perdão em outra vida.
Se você ler Mateus 12, 32 vai encontrar o seguinte: "Se alguém disser uma
palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o
Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem nesta vida, nem na outra."
Tomando a sério este texto, terei
que admitir que o único pecado sem perdão é aquele cometido contra o Espírito
Santo, havendo, portanto, pecados que podem ser perdoados em outra vida. Isto
que é a fé da Igreja fica mais claro quando Jesus fala de uma prisão temporária
em Mateus 5, 25-26.
"...para não acontecer que o
adversário te entregue ao juiz e o juiz ao guarda e, assim, sejas lançado na
prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último
centavo." Este texto fala sobre a necessidade de reconciliação enquanto
estamos a caminho e afirma que caso nao nos abramos a este perdão, pagaremos na
outra vida. Mas se só existisse Céu e Inferno, o que significaria ficar preso
até pagar o último centavo? É evidente que esta prisão temporária, lugar de
perdão na outra vida, através de um fogo que purifica e salva, não pode ser o
Céu, "onde nada de impuro entrará" (Apocalipse 21, 27), nem o
Inferno, onde não há redenção e o fogo é eterno Mt 25, 41
Só resta que esses textos se
refiram a um lugar intermediário, transitório e de expiação, que a Igreja,
com toda a propriedade, chama de Purgatório, embora essa palavra não esteja na
Bíblia. Sua realidade é que está. Temos de admitir, portanto, com a Sagrada
Escritura, a existência desse lugar de purificação que a Sabedoria de Deus, na
sua infinita bondade, criou para conciliar as exigências da sua justiça divina
com as da sua misericórdia. Estão, pois, em erro os que só admitem a existência
do Céu e do Inferno, e, com isso, não rezam pelos mortos.
Podemos e devemos fazer orações e
sacrifícios pelos mortos em geral. Devemos rezar por todas as almas, porque não
sabemos com certeza quais estão realmente precisando e em condições de receber
os méritos impetrados por nossas ações em favor delas. Estas, sobretudo a Santa
Missa que fizermos celebrar, não ficarão sem efeito, pois o Senhor saberá
aplicá-las às almas mais necessitadas (além de que, com isso, prestamos a Deus
as homenagens que Lhe devemos).