"À vossa
proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas Em
nossas necessidades, Mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Ó Virgem
gloriosa e bendita!".
No ano início do Século XX, no
ano de 1927, no Egito, foi encontrado um fragmento de papiro que remonta ao
século III, que foi adquirido pela Biblioteca John Ryland, de Manchester
(Inglaterra). O pequeno papiro de 18x9,4 cm, que foi catalogado como
Ryl.III,470, teve seu conteúdo identificado em 1939; é o texto de uma oração
dirigida a Maria Santíssima, invocada como Theotókos (Mãe de Deus) no século
III.
O texto do fragmento papiráceo
foi editado em 1938, sem que se tivessem até então identificado os dizeres.
Isto só foi feito no ano seguinte por F. Mercenier: este pesquisador verificou
que se tratava da oração mariana conhecida e recitada ainda hoje com as
palavras iniciais “A Vossa Proteção”. Neste fragmento estava escrito:
"À vossa proteção
recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas Em nossas
necessidades, Mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Ó Virgem gloriosa e
bendita!".
Esta oração conhecida com o nome “Sub tuum praesidium” (À vossa proteção)
é a mais antiga oração a Nossa Senhora que se conhece. Tem ela uma excepcional
importância histórica pela explícita referência ao tempo de perseguições dos
cristãos (Livrai-nos de todo perigo) e uma particular importância teológica por
recorrer à intercessão de Maria invocada com o título de Theotókos (Mãe de Deus).
Este título é o mais belo e
importante privilégio da Virgem Santíssima. Já no século II, era dirigido à
Maria e foi objeto de definição conciliar em Éfeso no ano de 431.
Maria, Mãe de Deus!
O texto primitivo do qual derivam
as diversas variações litúrgicas (copta, grega, ambrosiana e romana) é o
seguinte: “Sob a asa da vossa misericórdia nós nos refugiamos, Theotókos; não
recuse os nossos pedidos na necessidade e salva-nos do perigo: somente pura,
somente bendita”.
Qual é, na mente da Igreja e da
Tradição, o genuíno e profundo sentido deste dogma mariano central?
São Tomás afirma que pelo fato de
ser mãe de Deus: “A Bem Aventurada
Virgem Maria está revestida de uma dignidade quase infinita, a causa do bem
infinito que é o mesmo Deus. Portanto, não se pode conceber nada mais elevado
que ela, como nada pode haver mais excelso que Deus” (Suma Teológica
1, q.25, a.6 ad 4.).
E, de acordo com o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA:
Denominada nos Evangelhos “a Mãe de Jesus” (João 2,1;19,25[a72]), Maria
é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho,
como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu
Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a
carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotokos)
(CIC 495)
O Concílio de Éfeso tem a glória
de ser o grande Concílio Mariano, pois seu dogma destruiu a maior heresia
contra a Virgem e pôs a pedra angular de toda a Mariologia. A igreja com o
decorrer do tempo iria descobrindo os grandes tesouros encerrados na
Maternidade Divina de Maria.
Porém, é necessário compreender o
que a Igreja quer dizer quando fala em Maria como mãe de Deus. Jesus Cristo,
segunda pessoa da santíssima Trindade, existe desde toda a eternidade. Ele
procede do Pai por uma geração espiritual, na qual não intervém evidentemente
nenhuma criatura humana. Portanto, Maria não é mãe do Filho de Deus quanto à
sua origem divina, mas é mãe do “verbo encarnado”, do Filho de Deus feito
homem.
Maria deve ser chamada Mãe de
Deus, porque a maternidade se refere sempre à pessoa. A mãe de um homem não é
só a mãe de seu corpo. Ela é mãe da pessoa toda. Assim também Maria é mãe de
seu Filho, como pessoa divina e humana que Cristo é.
Convém ainda recordar que esta
questão já foi tratada na era patrística, isto é, no Cristianismo primitivo. De
fato, Nestório, bispo de Constantinopla, negava o título de “Theotokos” (“Mãe
de Deus”) a Maria. Nestório sabia muito bem que isto significava a consequente
negação da natureza de Cristo, homem e Deus.
A mesma história patrística
mostra a forte reação dos cristãos contra Nestório, que resultou no Concílio de
Éfeso, no ano de 431, reconhecendo a legitimidade do título de Mãe de Deus,
dado a Maria, e condenando as ideias nestorianas.
Quando o Concílio de Éfeso
proclamou Maria Theotókos, fez eco a uma tradição cujo primeiro termo conhecido
remonta a Orígenes (243). Este Concílio tem a glória de ser o grande Concílio
Mariano, pois seu dogma destruiu a maior heresia contra a Virgem e pôs a pedra
angular de toda a Mariologia. A igreja com o decorrer do tempo iria descobrindo
os grandes tesouros encerrados na Maternidade Divina de Maria.
Segue a Oração:
po (u)po (ten sen)
EISPAA euspla (gkian)
KA. AYE Ka(t)
aYe(ugomen)
TEOTOKETA teotoke ta
(s emov)
IKESIASMHPA ikesias
me pa(r)
EIDHSEMPEPIETASEI
eides em peristasei
ALLEKKINDYNOY all ek
kunduvou
PYSAIHMAS rusai emas
MONHA mone a(gne mon)
HEYLOG e eulog
(emene)
Em latim:
SUB tuum praesidium
confugimus,
Sancta Dei Genetrix.
Nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus nostris,
sed a periculis
cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et
benedicta. Amen.
O texto, devidamente reconstituído, diz o seguinte:
À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita!”
Em outra tradução:
Sob a tua misericórdia nos refugiamos Mãe de Deus!
Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas
dificuldades,
Mas livra-nos do perigo,
Única casta e bendita.
Outra versão:
Debaixo da vossa proteção nos refugiamos Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades.
Mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita!
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades.
Mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita!
A oração, redigida na primeira
pessoa do plural, parece ser,por isto mesmo, pertinente ao uso da liturgia. São
Cirilo, bispo de Alexandria, sede tradicionalmente oposta a Constantinopla em
questões cristológicas, assumiu a defesa do titulo Theotókos.
O Concílio geral de Éfeso em 431,
valendo-se das palavras de Cirilo, declarou que os Santos padres "não
duvidaram chamar Theotókos a SSma. Virgem" - o que não queria dizer que a
Divindade começou a existir a partir de Maria, mas que Aquele que nasceu de
Maria, desde o seio materno está unido hipostaticamente ao Verbo de Deus.
O antecessor de Atanásio na sede
Alexandrina, S. Alexandre, também usou tal título: numa de suas cartas afirma
que o Verbo assumiu um corpo verdadeiro, e não aparente, de Maria, a
Theotókos.( PG 18,568c). Em 300 foi eleito bispo de Alexandria Pedro I ; ao referir-se
ao mistério da Encarnação, chama duas vezes Maria ,a Theotókos (PG 18,517b).
Fontes