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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

E a festa do Halloween?


E a festa do Halloween? EB 

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 464 - Ano 2001 - p. 47

Em síntese: A festa dos Halloween é de origem céltica; tem sua inspiração no druidismo ou na religião dos sacerdotes celtas, que muito marcaram o pensamento dos povos da Irlanda, da Escócia e de regiões da Inglaterra. Supunha que os mortos vinham à terra visitar seus familiares na noite de 31/10 para 1º/11; em conseqüência os homens e mulheres  se vestiam com trajes fantasiosos a fim de não ser reconhecidos e arrebatados pelos visitantes do além. A estas concepções se associava o festival de fim do ano celta celebrado a 31/10 com presentes e orgias.

Este fundo de idéias e práticas pagãs foi, tanto quanto possível, cristianizado pela Igreja, que instituiu a festa de Todos os Santos a 1º/11 e a comemoração de Finados a 2/11. Ainda hoje os Halloween são festejados nos Estados Unidos, levados para lá pelos imigrantes irlandeses. Todavia muitos abusos se têm registrado em tais celebrações. No Brasil a festa dos Halloween toma o caráter de um pequeno Carnaval, em que as crianças trajam suas fantasias e recebem presentes. O apreço dessa festa em alguns lugares decorre da onda neo-pagã que tem invadido a civilização ocidental.

À tarde de 31/10 celebra-se em alguns lugares a vigília da festa dos Halloween (Allhallowseven).

Muitas pessoas, um tanto estupefatas, perguntam: que festa é essa?

É a tal pergunta que se dará resposta nas páginas seguintes.

As origens da festa

À primeira vista, quem considera a festa dos Halloween como é celebrada no Brasil dirá que é celebrada folclórica, popular e inofensiva: as crianças então se vestem de fantasias (quase carnavalescas) e põem seus sapatos à porta da residência dos vizinhos, para que estes lhe dêem presentes. Há, porém, quem levante suspeitas sobre o significado de tais celebrações, suspeitas, aliás, justificadas, dada a origem dos Halloween.

Com efeito. A festa dos Halloween tem seu berço entre os povos celtas. Estes emigraram da Ásia para o continente europeu nos séculos anteriores a Cristo e se fixaram principalmente na Gália, na Irlanda, na cerdotal dos druídas, guardiães das tradições religiosas de sua gente, que tinham conhecimentos de astronomia, medicina e direito. Os druídas exerciam as funções de juízes e líderes, dotados de "dons proféticos" ou  da capacidade de prever o futuro. Acreditavam na imortalidade da alma e de metempsicose ou na migração das almas dos falecidos. Os druídas foram um fator de unidade do mundo celta: por isto foram combatidos pelos romanos, que conquistaram a Gália e as Ilhas Britânicas.

De modo especial, os celtas valorizavam a noite de 31/10 para 1º/11. E isto por dois motivos:

1) O ano celta terminava em 31/10, dia do olho de Samhain. Tal dia era celebrado com ritos religiosos e agrários. Nessa ocasião comiam-se alimentos especiais como nozes, maçãs, e preparavam-se os alimentos para o inverno.

2) Na noite de 31/10 para 1º/11 julgava-se que os mortos desciam do além para a terra a fim de visitar seus familiares à procura de calor e bom ânimo frente ao frio do inverno que se aproximava.

Desta maneira Samhain assinalava o fim de um ano e o começo de outro, juntamente com o festival dos mortos. A celebração respectiva implicava todo um folclore típico.

Os homens e as mulheres vestiam trajes fantasiosos a fim de se dissimilarem e não serem arrebatados pelos espíritos dos falecidos para o além. Por estarem começando novo ano, desejavam uns aos outros plena felicidade. Havia magos que procuravam saber "profeticamente" quem haveria de se casar e quem haveria de morrer no próximo ano; tentavam adivinhar também quais as melhores oportunidades de êxito em seus empreendimentos. - Ao lado desse aspecto festivo, havia o apavorante: julgava-se que as bruxas, as fadas e os gnomos¹ lançavam o terror no povo: eram tidos como seres de um mundo superior que roubavam crianças, destruíam colheitas e matavam o gado. Dentro desse quadro de festa e pavor, os homens acendiam lanternas no topo das colinas sob o olhar de Samhain; o fogo luminoso podia servir para guiar os espíritos até a casa dos familiares como também para matar ou afugentar as bruxas.

Tais são os elementos dos quais depende a festa moderna dos Halloween. Além destes dados de origem céltica, julga-se que os Halloween trazem também resquícios da festa romana da colheita dita Pomona, resquícios, porém, muito mais pálidos do que os de origem céltica.

O Cristianismo, ao penetrar nas regiões da Gália e das Ilhas Britânicas, encontrou aí a celebração pagã mencionada. A Igreja procurou eliminar os elementos mitológicos do festival. Assim o dia 1º de novembro foi "cristianizado". Com efeito; o Papa Gregório III (731-741) escolheu a data de 1º/11 para celebrar a festa da consagração de uma capela na basílica de São Pedro em honra de Todos os Santos. Em 834 o Papa Gregório IV estendeu a festa à Igreja inteira; desta maneira procurava-se dar um sentido cristão à celebração da vinda dos espíritos dos falecidos praticada pelo druidismo. A cristianização foi corroborada pelo fato de que em 908 Santo Odilon, abade de Cluny (França), começou a celebrar a memória de todos os fiéis defuntos aos 2/11. Os cristãos tentaram assim neutralizar os efeitos dos antigos ritos pagãos.

Todavia não foi possível aos cristãos todo resquício mitológico. Na Idade Média dava-se grande importância às bruxas, que eram tidas como agentes do demônio; como se dizia, estes desciam sobre as bruxas em sabbaths, quando havia banquetes e orgias. Um dos mais importantes sabbaths era precisamente o dia da noite de 31 de outubro; supunha-se que as bruxas a esses bacanais voando em cabo de vassoura, acompanhadas de gatos pretos.

Na época moderna os festivais de Halloween caíram em desuso na Europa, exceto na Irlanda, na Escócia e em regiões do país de Gales. Mesmo aí degeneraram muitas vezes, tomando o caráter de desmandos com pilhagem e saques. Grupos de festeiros itinerantes bloqueiam as portas das casas com carretas; roubam grades e maquinária, batem nas janelas, arremessam hortaliças contra os portões, entopem as chaminés para que a fumaça não possa sair. Em alguns lugares os rapazes e as moças vestem trajes ou fantasias do sexo oposto, usam máscaras e assim invadem as casas vizinhas para se divertir com os moradores. Fazem às vezes de bruxas, fadas e gnomos.

Para preparar a tarde de Halloween, muitos adeptos da festa vão de casa em casa pedindo donativos, especialmente alimentos (nozes, maçãs...). Os doadores generosos são gratificados com promessa de prosperidade, ao passo  que os opositores são ameaçados de castigos. Essas contribuições são, muitas vezes, solicitadas em nome de Muck Olla, antiga divindade dos druídas, ou também em nome de São Columba Cille, missionário na Irlanda do século VI.

Nos Estados Unidos a festa dos Halloween foi introduzida pelos imigrantes irlandeses a partir de 1840; tem sido celebrada com vandalismo e danos para muitas famílias.

No Brasil existem redutos de Halloween, com fantasias e presentes para as crianças. Tal festividade tem caráter ambíguo, fomentado pela onda de paganismo renascente.

 
¹O gnomo é um ente mitológico e folclórico representado por um anão deformado. Segundo a lenda, os gnomos moram dentro da terra de onde extraem minerais preciosos, confeccionam complicados ornamentos de metal e fabricam armas - o que explica a sua fama de guardiães de tesouros ocultos.

A bruxa também é personagem folclórico, mulher feiticeira, caracterizada por ser velha, enrugada, alta magra e feia; anda vestida de trapos negros e sujos e traz um saco cheio de objetos ligados à feitiçaria. Voa sentada num cabo de vassoura e sempre à noite. As borboletas noturnas, os sapos e as corujas são as companheiras ou mesmo as encarnações das bruxas.