E a festa do Halloween? EB
Revista: "PERGUNTE E
RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 464 - Ano 2001 - p. 47
Em síntese: A festa
dos Halloween é de origem céltica; tem sua inspiração no druidismo ou na
religião dos sacerdotes celtas, que muito marcaram o pensamento dos povos da
Irlanda, da Escócia e de regiões da Inglaterra. Supunha que os mortos vinham à
terra visitar seus familiares na noite de 31/10 para 1º/11; em conseqüência os
homens e mulheres se vestiam com trajes fantasiosos a fim de não ser
reconhecidos e arrebatados pelos visitantes do além. A estas concepções se
associava o festival de fim do ano celta celebrado a 31/10 com presentes e
orgias.
Este fundo de idéias e práticas
pagãs foi, tanto quanto possível, cristianizado pela Igreja, que instituiu a
festa de Todos os Santos a 1º/11 e a comemoração de Finados a 2/11. Ainda hoje
os Halloween são festejados nos Estados Unidos, levados para lá pelos
imigrantes irlandeses. Todavia muitos abusos se têm registrado em tais
celebrações. No Brasil a festa dos Halloween toma o caráter de um pequeno
Carnaval, em que as crianças trajam suas fantasias e recebem presentes. O apreço
dessa festa em alguns lugares decorre da onda neo-pagã que tem invadido a
civilização ocidental.
À tarde de 31/10 celebra-se em
alguns lugares a vigília da festa dos Halloween (Allhallowseven).
Muitas pessoas, um tanto estupefatas, perguntam: que festa é essa?
Muitas pessoas, um tanto estupefatas, perguntam: que festa é essa?
É a tal pergunta que se dará
resposta nas páginas seguintes.
As origens da festa
À primeira vista, quem considera
a festa dos Halloween como é celebrada no Brasil dirá que é celebrada
folclórica, popular e inofensiva: as crianças então se vestem de fantasias
(quase carnavalescas) e põem seus sapatos à porta da residência dos vizinhos,
para que estes lhe dêem presentes. Há, porém, quem levante suspeitas sobre o
significado de tais celebrações, suspeitas, aliás, justificadas, dada a origem
dos Halloween.
Com efeito. A festa dos Halloween
tem seu berço entre os povos celtas. Estes emigraram da Ásia para o continente
europeu nos séculos anteriores a Cristo e se fixaram principalmente na Gália,
na Irlanda, na cerdotal dos druídas, guardiães das tradições religiosas de sua
gente, que tinham conhecimentos de astronomia, medicina e direito. Os druídas
exerciam as funções de juízes e líderes, dotados de "dons proféticos"
ou da capacidade de prever o futuro. Acreditavam na imortalidade da alma
e de metempsicose ou na migração das almas dos falecidos. Os druídas foram um
fator de unidade do mundo celta: por isto foram combatidos pelos romanos, que
conquistaram a Gália e as Ilhas Britânicas.
De modo especial, os celtas
valorizavam a noite de 31/10 para 1º/11. E isto por dois motivos:
1) O ano celta terminava em
31/10, dia do olho de Samhain. Tal dia era celebrado com ritos religiosos e
agrários. Nessa ocasião comiam-se alimentos especiais como nozes, maçãs, e
preparavam-se os alimentos para o inverno.
2) Na noite de 31/10 para 1º/11
julgava-se que os mortos desciam do além para a terra a fim de visitar seus
familiares à procura de calor e bom ânimo frente ao frio do inverno que se
aproximava.
Desta maneira Samhain assinalava
o fim de um ano e o começo de outro, juntamente com o festival dos mortos. A
celebração respectiva implicava todo um folclore típico.
Os homens e as mulheres vestiam
trajes fantasiosos a fim de se dissimilarem e não serem arrebatados pelos
espíritos dos falecidos para o além. Por estarem começando novo ano, desejavam
uns aos outros plena felicidade. Havia magos que procuravam saber
"profeticamente" quem haveria de se casar e quem haveria de morrer no
próximo ano; tentavam adivinhar também quais as melhores oportunidades de êxito
em seus empreendimentos. - Ao lado desse aspecto festivo, havia o apavorante:
julgava-se que as bruxas, as fadas e os gnomos¹ lançavam o terror no povo: eram
tidos como seres de um mundo superior que roubavam crianças, destruíam
colheitas e matavam o gado. Dentro desse quadro de festa e pavor, os homens
acendiam lanternas no topo das colinas sob o olhar de Samhain; o fogo luminoso
podia servir para guiar os espíritos até a casa dos familiares como também para
matar ou afugentar as bruxas.
Tais são os elementos dos quais
depende a festa moderna dos Halloween. Além destes dados de origem céltica,
julga-se que os Halloween trazem também resquícios da festa romana da colheita
dita Pomona, resquícios, porém, muito mais pálidos do que os de origem céltica.
O Cristianismo, ao penetrar nas
regiões da Gália e das Ilhas Britânicas, encontrou aí a celebração pagã
mencionada. A Igreja procurou eliminar os elementos mitológicos do festival.
Assim o dia 1º de novembro foi "cristianizado". Com efeito; o Papa
Gregório III (731-741) escolheu a data de 1º/11 para celebrar a festa da
consagração de uma capela na basílica de São Pedro em honra de Todos os Santos.
Em 834 o Papa Gregório IV estendeu a festa à Igreja inteira; desta maneira
procurava-se dar um sentido cristão à celebração da vinda dos espíritos dos
falecidos praticada pelo druidismo. A cristianização foi corroborada pelo fato
de que em 908 Santo Odilon, abade de Cluny (França), começou a celebrar a
memória de todos os fiéis defuntos aos 2/11. Os cristãos tentaram assim neutralizar
os efeitos dos antigos ritos pagãos.
Todavia não foi possível aos
cristãos todo resquício mitológico. Na Idade Média dava-se grande importância
às bruxas, que eram tidas como agentes do demônio; como se dizia, estes desciam
sobre as bruxas em sabbaths, quando havia banquetes e orgias. Um dos mais
importantes sabbaths era precisamente o dia da noite de 31 de outubro;
supunha-se que as bruxas a esses bacanais voando em cabo de vassoura,
acompanhadas de gatos pretos.
Na época moderna os festivais de
Halloween caíram em desuso na Europa, exceto na Irlanda, na Escócia e em
regiões do país de Gales. Mesmo aí degeneraram muitas vezes, tomando o caráter
de desmandos com pilhagem e saques. Grupos de festeiros itinerantes bloqueiam
as portas das casas com carretas; roubam grades e maquinária, batem nas
janelas, arremessam hortaliças contra os portões, entopem as chaminés para que
a fumaça não possa sair. Em alguns lugares os rapazes e as moças vestem trajes
ou fantasias do sexo oposto, usam máscaras e assim invadem as casas vizinhas
para se divertir com os moradores. Fazem às vezes de bruxas, fadas e gnomos.
Para preparar a tarde de
Halloween, muitos adeptos da festa vão de casa em casa pedindo donativos,
especialmente alimentos (nozes, maçãs...). Os doadores generosos são
gratificados com promessa de prosperidade, ao passo que os opositores são
ameaçados de castigos. Essas contribuições são, muitas vezes, solicitadas em
nome de Muck Olla, antiga divindade dos druídas, ou também em nome de São Columba
Cille, missionário na Irlanda do século VI.
Nos Estados Unidos a festa dos
Halloween foi introduzida pelos imigrantes irlandeses a partir de 1840; tem
sido celebrada com vandalismo e danos para muitas famílias.
No Brasil existem redutos de
Halloween, com fantasias e presentes para as crianças. Tal festividade tem
caráter ambíguo, fomentado pela onda de paganismo renascente.
¹O gnomo é um ente mitológico e
folclórico representado por um anão deformado. Segundo a lenda, os gnomos moram
dentro da terra de onde extraem minerais preciosos, confeccionam complicados
ornamentos de metal e fabricam armas - o que explica a sua fama de guardiães de
tesouros ocultos.
A bruxa também é personagem
folclórico, mulher feiticeira, caracterizada por ser velha, enrugada, alta
magra e feia; anda vestida de trapos negros e sujos e traz um saco cheio de
objetos ligados à feitiçaria. Voa sentada num cabo de vassoura e sempre à
noite. As borboletas noturnas, os sapos e as corujas são as companheiras ou
mesmo as encarnações das bruxas.