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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Novelas - Padre Ladrão e Homossexual no Enredo


Côn. José Everaldo Rodrigues Filho

Detesto novelas! Além de não gostar por não me fazer bem, não tenho tempo para ficar numa televisão assistindo criações de mentes perturbadas, cheias de preconceito e de inversões de valores morais da vida. Porém, não sou surdo nem cego ao ver o frenético murmúrio do povo ao comentar a figura de um padre na novela das 21h da TV Globo. João Emanuel Carneiro, autor da novela global “Avenida Brasil”, não tinha nada para fazer e inventou de colocar um padre “ladrão e homossexual” no enredo.

Diz a música do padre Antônio Maria: “numa comunidade que existe um padre, o povo é mais feliz”, é ele que abençoa, dando esperanças ao povo da presença de Deus em sua vida, é ele que perdoa os pecados e alivia as dores da alma, é ele que concede ao povo a graça de Deus materializada nos sacramentos, é ele que reúne o povo ao redor da palavra e da eucaristia, é ele que socorre os doentes que abandonados na solidão convivem com dores e mágoas profundas, é ele que acode os pobres expurgados pela sociedade consumista e materialista.

De onde vem tanto preconceito e perseguição a uma classe que só existe para fazer o bem? Jesus afirmou no capítulo 15,18: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que vós, me odiou a mim”. Odiaram o próprio Jesus, o que não dizer daqueles que continuam a exercer a missão de Jesus na comunidade paroquial.

Na comunidade paroquial, cabe ao padre orientar o povo. A função do padre é ouvir, reunir e orientar as famílias, atender os doentes, administrar os sacramentos, transmitir a Palavra (para maior glória de Deus e formação do homem cristão). As três grandes missões do padre são: Pregar a Palavra; celebrar os sacramentos e governar a comunidade paroquial.

O sacerdote tem o dever de ensinar o Evangelho ao povo, convidando-o para a conversão e santidade. Pelo Batismo, introduz o homem no rebanho que forma o povo de Deus; pela Penitência (Confissão dos Pecados), reconcilia o pecador com Deus; pela Unção dos Enfermos, procura levar alívio e consolo aos doentes; pela celebração da missa, oferece sacramentalmente o sacrifício de Cristo; pelo Matrimônio, confere a união dos esposos em um lar cristão; pela Confirmação (Crisma), confirma o Batismo. Fortifica o homem no amor e na paz: alimenta-o espiritualmente e pelo seu exemplo nos leva a tornar-nos mais fraternos e mais irmãos.

Padre Baeteman afirmou: “Sem dúvida é um homem como nós, porém um homem obrigado, pela vocação, a viver num plano superior, a tender à perfeição, mesmo à santidade; um homem condenado a viver só, sem família, a fim de ter o coração livre e sempre pronto à todas as dedicações; um homem que segundo a palavra do P. Chevrier, é "feito para ser destruído"; um homem que não se pertence, mas que pertence a todos.

Como Cristo ele está na terra "para servir". E que servidão a sua! Dia e noite ele está à disposição dos que necessitam do seu ministério; passará horas a fio nisso... quantos padres têm perdido a saúde em consequência de estágios prolongados no confessionário! Em certos momentos, o seu pobre corpo não pode mais, a cabeça estala; mas eles têm de permanecer no seu posto. Estão ali "para servir". Ali ouvem confissões perturbadoras, ficam ligados a elas por um segredo terrível, a ponto de deverem morrer antes que revelarem o que ouviram. E, se uma epidemia estender suas devastações sobre o país, eles serão sempre os primeiros, e por dever, a ir à cabeceira dos doentes, ainda quando tivessem com isso de contrair o contágio e a morte. Devem "servir"!

No campo, é uma solidão esmagadora e, às vezes, a pobreza extrema... Nas cidades, o padre é "moído", da manhã à noite, pelos ofícios, pelos catecismos, pelos doentes, pelas visitas obrigatórias, pelos patronatos, etc...

E quantos que, á noite, ainda são obrigados a ocupar-se de círculos de estudos, de sessões a preparar, e o mais; expostos ainda a levantar-se se, durante a noite, os chamar à cabeceira de um moribundo! Na realidade, quando olhada sem "parti-pris", a vida do padre é simplesmente heroica.

O que os inimigos exprobram, sobretudo, não é o bem que ele faz, é vê-lo teimar em viver na cruz, como seu Mestre, condenando-lhes assim os costumes dissolutos! A ele, como a Cristo, eles bradam: "Desce da tua cruz!" Então talvez eles lhe perdoassem, se o vissem tornar-se como um deles. Mas o eleito de Deus obstinar-se-á na sua vida rude, crucificado, solitário; jamais descerá da sua cruz, jamais renunciará ao seu papel de Cristo. Por isto, será sempre perseguido pelas injúrias, pelos sarcasmos, pelos escárnios e pelo ódio.

Os jornais de 1937 noticiaram que, na Espanha, 50% dos padres haviam sido fuzilados, torturados, trucidados; em certas regiões a proporção foi até 90%. ...Um missionário da China, voltando à França depois de haver por milagre escapado a horríveis perigos, ao descer do navio, em Marselha, arrastava o seu pobre corpo gasto, amortecido. Uns operários passam por junto dele, e um deles, apontando-o aos outros, exclama: "Quando será que se jogará na água esse lepra?" Por que esse grito de ódio? Era um padre!” (Padre Baeteman - Mais perto de Ti, meu Cristo - pág. 249 a 252).