Côn. José Everaldo Rodrigues
Filho
Detesto novelas! Além de não
gostar por não me fazer bem, não tenho tempo para ficar numa televisão
assistindo criações de mentes perturbadas, cheias de preconceito e de inversões
de valores morais da vida. Porém, não sou surdo nem cego ao ver o frenético
murmúrio do povo ao comentar a figura de um padre na novela das 21h da TV
Globo. João Emanuel Carneiro, autor da novela global “Avenida Brasil”, não
tinha nada para fazer e inventou de colocar um padre “ladrão e homossexual” no
enredo.
Diz a música do padre Antônio
Maria: “numa comunidade que existe um padre, o povo é mais feliz”, é ele que
abençoa, dando esperanças ao povo da presença de Deus em sua vida, é ele que
perdoa os pecados e alivia as dores da alma, é ele que concede ao povo a graça
de Deus materializada nos sacramentos, é ele que reúne o povo ao redor da
palavra e da eucaristia, é ele que socorre os doentes que abandonados na
solidão convivem com dores e mágoas profundas, é ele que acode os pobres
expurgados pela sociedade consumista e materialista.
De onde vem tanto preconceito e
perseguição a uma classe que só existe para fazer o bem? Jesus afirmou no
capítulo 15,18: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que vós, me odiou
a mim”. Odiaram o próprio Jesus, o que não dizer daqueles que continuam a
exercer a missão de Jesus na comunidade paroquial.
Na comunidade paroquial, cabe ao
padre orientar o povo. A função do padre é ouvir, reunir e orientar as
famílias, atender os doentes, administrar os sacramentos, transmitir a Palavra
(para maior glória de Deus e formação do homem cristão). As três grandes
missões do padre são: Pregar a Palavra; celebrar os sacramentos e governar a
comunidade paroquial.
O sacerdote tem o dever de ensinar
o Evangelho ao povo, convidando-o para a conversão e santidade. Pelo Batismo,
introduz o homem no rebanho que forma o povo de Deus; pela Penitência
(Confissão dos Pecados), reconcilia o pecador com Deus; pela Unção dos
Enfermos, procura levar alívio e consolo aos doentes; pela celebração da missa,
oferece sacramentalmente o sacrifício de Cristo; pelo Matrimônio, confere a
união dos esposos em um lar cristão; pela Confirmação (Crisma), confirma o
Batismo. Fortifica o homem no amor e na paz: alimenta-o espiritualmente e pelo
seu exemplo nos leva a tornar-nos mais fraternos e mais irmãos.
Padre Baeteman afirmou: “Sem
dúvida é um homem como nós, porém um homem obrigado, pela vocação, a viver num
plano superior, a tender à perfeição, mesmo à santidade; um homem condenado a
viver só, sem família, a fim de ter o coração livre e sempre pronto à todas as
dedicações; um homem que segundo a palavra do P. Chevrier, é "feito para
ser destruído"; um homem que não se pertence, mas que pertence a todos.
Como Cristo ele está na terra
"para servir". E que servidão a sua! Dia e noite ele está à
disposição dos que necessitam do seu ministério; passará horas a fio nisso...
quantos padres têm perdido a saúde em consequência de estágios prolongados no
confessionário! Em certos momentos, o seu pobre corpo não pode mais, a cabeça
estala; mas eles têm de permanecer no seu posto. Estão ali "para
servir". Ali ouvem confissões perturbadoras, ficam ligados a elas por um
segredo terrível, a ponto de deverem morrer antes que revelarem o que ouviram.
E, se uma epidemia estender suas devastações sobre o país, eles serão sempre os
primeiros, e por dever, a ir à cabeceira dos doentes, ainda quando tivessem com
isso de contrair o contágio e a morte. Devem "servir"!
No campo, é uma solidão esmagadora
e, às vezes, a pobreza extrema... Nas cidades, o padre é "moído", da
manhã à noite, pelos ofícios, pelos catecismos, pelos doentes, pelas visitas
obrigatórias, pelos patronatos, etc...
E quantos que, á noite, ainda são
obrigados a ocupar-se de círculos de estudos, de sessões a preparar, e o mais;
expostos ainda a levantar-se se, durante a noite, os chamar à cabeceira de um
moribundo! Na realidade, quando olhada sem "parti-pris", a vida do
padre é simplesmente heroica.
O que os inimigos exprobram,
sobretudo, não é o bem que ele faz, é vê-lo teimar em viver na cruz, como seu
Mestre, condenando-lhes assim os costumes dissolutos! A ele, como a Cristo,
eles bradam: "Desce da tua cruz!" Então talvez eles lhe perdoassem,
se o vissem tornar-se como um deles. Mas o eleito de Deus obstinar-se-á na sua
vida rude, crucificado, solitário; jamais descerá da sua cruz, jamais
renunciará ao seu papel de Cristo. Por isto, será sempre perseguido pelas
injúrias, pelos sarcasmos, pelos escárnios e pelo ódio.
Os jornais de 1937 noticiaram
que, na Espanha, 50% dos padres haviam sido fuzilados, torturados, trucidados;
em certas regiões a proporção foi até 90%. ...Um missionário da China, voltando
à França depois de haver por milagre escapado a horríveis perigos, ao descer do
navio, em Marselha, arrastava o seu pobre corpo gasto, amortecido. Uns
operários passam por junto dele, e um deles, apontando-o aos outros, exclama:
"Quando será que se jogará na água esse lepra?" Por que esse grito de
ódio? Era um padre!” (Padre Baeteman - Mais perto de Ti, meu Cristo - pág. 249
a 252).