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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Católico nas novelas: um hipócrita debilóide?


Você é católico? Então para as novelas você é: mentiroso(a); fofoqueiro(a), que vive a vigiar a vida das pessoas; hipócrita; usa de desculpas de que vai a Aparecida ou à missa para escapadas com amantes; reza somente nos momentos de perigo ou precisão; ora pedindo mal para outras pessoas e que Deus livre só a sua cara; suborna sacerdotes; é preconceituoso(a) contra tudo e todos; faz caridade apenas para aparecer e tirar vantagens pessoais; desvia dinheiro de entidades assistenciais; tem imagem em todo canto da casa; usa de quermesses para disputas pessoais e aparecer; puxa saco de padre com agrados para obter algum favor; quando reza é só diante de imagens com velas por toda a casa; é supersticioso(a) …e por aí vai.

Nelas jamais se vê uma pessoa católica consciente, generosa e desinteressada, solidária, que conhece sua fé e não seja supersticiosa, que seja engajada na comunidade e faça da luta pela cidadania um aspecto de sua fé; que tenha seus momentos de reflexão-oração e leitura da Bíblia diariamente, bem como relação adulta e desinteressada com padres; que seja alguém que estude e conheça sua fé. Enfim, para as novelas, os fiéis católicos são um misto de hipócritas e debilóides, infantis do ponto de vista intelectual, pessoal, psíquico, espiritual e beiram a mais grassa idiotia. Interessante: quase sempre personagens de outros credos são retratados com muito respeito.

Para leigos católicos que andam pelo mundão de meu Deus, e são centenas, talvez milhares, dando cursos, encontros, retiros, estudando com o povo na periferia ou no sertão, ensinando de Levinas a Käseman, de Agostinho a Rahner, de antropologia à ética, de bíblia à espiritualidade, esta realidade unilateral das novelas soa estranho e beira o desrespeito. Cada vez mais se vê interesse e dedicação do católico comum a temas dos mais variados, numa busca para crescer em fé, conhecimento, caridade e cidadania. Isto em centenas de cursos de teologia para leigos, de cursos bíblicos e espiritualidade em dioceses e paróquias, com milhares, talvez dezenas de milhares de pessoas que durante anos estudam, discutem, oram e crescem como seres humanos e cristãos. Ou em círculos bíblicos, trabalhos sociais de todo tipo, desde apoio a recuperação de drogados e moradores de rua, ou a asilos e creches, onde jovens, adultos e velhos compartem a mais desinteressada solidariedade, sem esquecer dos grupos que nas comunidades lutam por melhorias, conscientização e cidadania. Ou as dezenas, centenas de leigos que estudam graduação e pós em teologia, ou ciências da religião em faculdades, e multiplicam este conhecimento nas comunidades.

Católicos são imperfeitos, pecadores, tem defeitos. Como quaisquer outros grupos. Católicos têm problemas de caráter, fé pequena, conhecimento superficial de sua fé. Como outros. Católicos pedem sempre ao Senhor: “eu creio, mas aumentai a minha fé”. Na liturgia, iniciam solicitando perdão por imperfeições, pecados. Mas será que não há um único, um só, que seja sinceramente generoso e caridoso, que seja verdadeiro na sua fé, que seja um cidadão honesto, que tenha maturidade intelectual, psíquica, espiritual e moral? Nas telenovelas não há. E creio que não haverá.

Resta saber como cada leigo católico recebe esta imagem, a ela reage. Somos mesmo assim? Depois de responder a esta pergunta surgem outras: se sim, por que somos assim? Se não, por não somos assim, e como reagimos a esta imagem de novela? Ignoramos, e aceitamos passivamente como as novelas nos retratam? Até aqui, ao menos publicamente, nunca vi nenhuma reação a esta unilateralidade extremamente negativa do retrato do leigo católico.

Fica a sugestão para leigos e grupos: que tal discutir, refletir, sobre a imagem como as novelas retratam o leigo, o fiel católico? Que tal colocar as perguntas acima em discussão na sua comunidade, grupo de oração, círculo bíblico, pastoral, curso de teologia, grupo de formação ou de espiritualidade? Sugiro também, caso seu grupo conclua se somos ou não conforme a imagem retratada, acrescentar a pergunta: se somos como nos retratam, o que é preciso fazer para que deixemos de ser como nos retratam ? Se não somos como nos retratam, o que fazer diante da novela que nos denigre?

Por Marco Antonio Tourinho*