Por mais que as estatísticas digam o contrário, estamos vendo um retorno paulatino do povo brasileiro às suas tradições católicas e um desmoronamento das Igrejas protestantes. O protestantismo clássico está entrando em colapso devido a duas ondas teológicas oriundas no universo protestante: a primeira onda é a chamada teologia da prosperidade e a segunda onda é a teologia da promessa por curas, milagres e prodígios.
A teologia da prosperidade é a mais
alta heresia do cristianismo na contemporaneidade. Trata-se da ideia de exigir e
esperar de Deus prosperidade material em troca da fidelidade às doações feitas às
diversas Igrejas. Disse
Jesus: “Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida
por causa de mim vai encontrá-la" (Mt 10, 37.39). Perder a própria vida significa
eliminar as tendências desordenadas que inclinam o homem ao pecado: o egoísmo, a
avareza, o consumismo o desejo de ter sempre mais etc.
É
importante nos lembrarmos da segunda tentação de Cristo no
deserto: a tentação da riqueza e do poder. Afirmou satanás a Jesus: “tudo isso me
pertence e dou a quem quiser: dar-te-ei caso te ajoelhares e me adorares (Lc 4,
1-13)” Cristo responde: “Vai-te Satanás! Pois está escrito adorarás o Senhor
teu Deus e só a Ele servirás!”. Nenhum reino, nenhuma riqueza pode salvar o
homem. A teologia da prosperidade ao invés de educar o povo à fraternidade
mostra que a aspiração da riqueza é uma bênção e que devemos exigir e esperar de
Deus riqueza, poder e prosperidade.
Como posso exigir
algo que Deus explicitamente condena? O ideal cristão não é o acúmulo de
riqueza, mas a partilha fraterna de todos os bens: “A multidão dos fiéis era um
só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía,
mas tudo entre eles era comum” (At 4,32).
A decepção é tremenda
quando se detecta que só há prosperidade para os líderes das Igrejas, a
teologia da prosperidade se torna auto prosperidade e a corrupção moral se
esconde por detrás do anúncio inocente da Palavra das Escrituras. Para
justificar a teologia da prosperidade se manipula os textos Sagrados e o anúncio
de versículos que enfatizam os dízimos são os mais utilizados nos cultos. Num
frenesi absurdo se estimula as massas a entregar todos os seus bens por amor a
Deus. E maliciosamente aquilo que foi dado a Deus é roubado para o patrimônio
pessoal dos que governam as Igrejas. Muitos que buscavam a riqueza nos cultos
tornaram-se mais pobres ainda e com um sentimento de desilusão e logro.
As vítimas dessa
primeira onda descobrem que apesar de suas falhas a Igreja católica educa para
a vida eterna e que a essência do cristianismo é a comunhão, a fraternidade, a
solidariedade e a partilha tão bem trabalhados pela ortopráxis do catolicismo.
Percebendo que a teologia da
prosperidade não mais seduz, surge uma segunda onda: a teologia da promessa de
curas, milagres e prodígios. É muito interessante que o Estado brasileiro não
consegue responder a demanda da população por saúde e bem-estar. Os hospitais,
os centros de saúde estão lotados. A população não é bem atendida, não há como
suprir todas as demandas, uma saúde cara, um tratamento desumano e, uma
população cada dia mais enferma.
Diante do drama da população vem a
promessa de curas, milagres e prodígios. As Igrejas midiáticas oferecem
abertamente este produto à população enormemente carente. Nos cultos são
suspensos cadeiras de rodas e muletas diante das câmeras e filas de testemunhos
diante do microfone anunciam milagres que não são confirmados por laudos
médicos confiáveis.
Nos Evangelhos Jesus não faz curas
com o objetivo de fazer espetáculos, mas realiza curas e milagres com o
objetivo pedagógico. Sempre faz um milagre para ensinar algo ao Povo. Jesus é a
“Palavra que se fez carne (Jo 1,1s)”, o objetivo da Palavra é ensinar e não
fazer um show pirotécnico.
No Evangelho de São João Jesus só
realiza sete milagres em três anos de seu ministério: 1) As bodas de Caná (água
transformada em vinho [Jo 2, 1-11]). Nesse milagre Jesus mostra que veio
transformar a humanidade; 2) A cura do filho de um oficial (Jo 4,46-53) a
humildade e a fé são instrumentos indispensáveis para a vida cristã; 3) A cura
de um paralítico (Jo 5,1-18) é preciso seguir a Jesus: único caminho para o
Pai; 4) A multiplicação dos pães e peixes (Jo 6,1-15) Jesus é o alimento, o Pão
da Vida que nutre a fome de infinito; 5) Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21)
a prova de fé de Pedro; 6) A cura de um cego de nascença (Jo 9, 1-12) Jesus é a
luz da Vida e, 7) Ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-46) Jesus é a Ressurreição e
a vida. Portanto, tornar uma Igreja uma fábrica de produzir milagres, sem
nenhuma preocupação pedagógica, curas realizadas com um objetivo claro para
chamar uma multidão de desesperados com o objetivo de arrecadação não é nada
mais e nada menos que pirotecnia midiática, esta prática não condiz com a
verdade do Evangelho.
É importante
salientar que a massa humana de desesperados que vai a busca de milagres e
prodígios nas Igrejas midiáticas, mais uma vez se decepciona com a falácia, o
engodo a farsa do show pirotécnico. O milagre que sempre se busca nunca chega, percebe-se
que o milagre é dado a uma pequena fração de pessoas, que muitas vezes recebe
uma côngrua pelo teatro, um universo de dramas humanos se converte num universo
de decepção.
A Igreja católica só
reconhece um milagre oficialmente quando um comitê de médicos especialistas,
depois de estudar profundamente o caso, chega à conclusão que não há explicação
científica para o fenômeno. Deus só realiza milagres para educar o povo de Deus
e um milagre é sempre algo que supera a capacidade humana, é um modo
extraordinário de cura, isto é, fato excepcional que supera os meios convencionais.
Muitas Igrejas sérias e líderes
religiosos comprometidos com o Evangelho assistem no palco da vida esses
tristes episódios. Ficam perplexos diante dessas duas ondas teológicas que
eclodem no universo protestante e que fazem o protestantismo no Brasil entrar
num profundo colapso. Caso o grande reformador Lutero vislumbrasse o quadro
atual ele buscaria uma nova Reforma, não na Igreja Católica, mas nas diversas
Igrejas protestantes.