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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Colapso do Protestantismo no Brasil

Côn. José Everaldo

            Por mais que as estatísticas digam o contrário, estamos vendo um retorno paulatino do povo brasileiro às suas tradições católicas e um desmoronamento das Igrejas protestantes. O protestantismo clássico está entrando em colapso devido a duas ondas teológicas oriundas no universo protestante: a primeira onda é a chamada teologia da prosperidade e a segunda onda é a teologia da promessa por curas, milagres e prodígios.

            A teologia da prosperidade é a mais alta heresia do cristianismo na contemporaneidade. Trata-se da ideia de exigir e esperar de Deus prosperidade material em troca da fidelidade às doações feitas às diversas Igrejas. Disse Jesus: “Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim vai encontrá-la" (Mt 10, 37.39). Perder a própria vida significa eliminar as tendências desordenadas que inclinam o homem ao pecado: o egoísmo, a avareza, o consumismo o desejo de ter sempre mais etc.

É importante nos lembrarmos da segunda tentação de Cristo no deserto: a tentação da riqueza e do poder. Afirmou satanás a Jesus: “tudo isso me pertence e dou a quem quiser: dar-te-ei caso te ajoelhares e me adorares (Lc 4, 1-13)” Cristo responde: “Vai-te Satanás! Pois está escrito adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás!”. Nenhum reino, nenhuma riqueza pode salvar o homem. A teologia da prosperidade ao invés de educar o povo à fraternidade mostra que a aspiração da riqueza é uma bênção e que devemos exigir e esperar de Deus riqueza, poder e prosperidade.

Como posso exigir algo que Deus explicitamente condena? O ideal cristão não é o acúmulo de riqueza, mas a partilha fraterna de todos os bens: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum” (At 4,32).

A decepção é tremenda quando se detecta que só há prosperidade para os líderes das Igrejas, a teologia da prosperidade se torna auto prosperidade e a corrupção moral se esconde por detrás do anúncio inocente da Palavra das Escrituras. Para justificar a teologia da prosperidade se manipula os textos Sagrados e o anúncio de versículos que enfatizam os dízimos são os mais utilizados nos cultos. Num frenesi absurdo se estimula as massas a entregar todos os seus bens por amor a Deus. E maliciosamente aquilo que foi dado a Deus é roubado para o patrimônio pessoal dos que governam as Igrejas. Muitos que buscavam a riqueza nos cultos tornaram-se mais pobres ainda e com um sentimento de desilusão e logro.

As vítimas dessa primeira onda descobrem que apesar de suas falhas a Igreja católica educa para a vida eterna e que a essência do cristianismo é a comunhão, a fraternidade, a solidariedade e a partilha tão bem trabalhados pela ortopráxis do catolicismo.

            Percebendo que a teologia da prosperidade não mais seduz, surge uma segunda onda: a teologia da promessa de curas, milagres e prodígios. É muito interessante que o Estado brasileiro não consegue responder a demanda da população por saúde e bem-estar. Os hospitais, os centros de saúde estão lotados. A população não é bem atendida, não há como suprir todas as demandas, uma saúde cara, um tratamento desumano e, uma população cada dia mais enferma.

            Diante do drama da população vem a promessa de curas, milagres e prodígios. As Igrejas midiáticas oferecem abertamente este produto à população enormemente carente. Nos cultos são suspensos cadeiras de rodas e muletas diante das câmeras e filas de testemunhos diante do microfone anunciam milagres que não são confirmados por laudos médicos confiáveis.

            Nos Evangelhos Jesus não faz curas com o objetivo de fazer espetáculos, mas realiza curas e milagres com o objetivo pedagógico. Sempre faz um milagre para ensinar algo ao Povo. Jesus é a “Palavra que se fez carne (Jo 1,1s)”, o objetivo da Palavra é ensinar e não fazer um show pirotécnico.

            No Evangelho de São João Jesus só realiza sete milagres em três anos de seu ministério: 1) As bodas de Caná (água transformada em vinho [Jo 2, 1-11]). Nesse milagre Jesus mostra que veio transformar a humanidade; 2) A cura do filho de um oficial (Jo 4,46-53) a humildade e a fé são instrumentos indispensáveis para a vida cristã; 3) A cura de um paralítico (Jo 5,1-18) é preciso seguir a Jesus: único caminho para o Pai; 4) A multiplicação dos pães e peixes (Jo 6,1-15) Jesus é o alimento, o Pão da Vida que nutre a fome de infinito; 5) Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21) a prova de fé de Pedro; 6) A cura de um cego de nascença (Jo 9, 1-12) Jesus é a luz da Vida e, 7) Ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-46) Jesus é a Ressurreição e a vida. Portanto, tornar uma Igreja uma fábrica de produzir milagres, sem nenhuma preocupação pedagógica, curas realizadas com um objetivo claro para chamar uma multidão de desesperados com o objetivo de arrecadação não é nada mais e nada menos que pirotecnia midiática, esta prática não condiz com a verdade do Evangelho.

É importante salientar que a massa humana de desesperados que vai a busca de milagres e prodígios nas Igrejas midiáticas, mais uma vez se decepciona com a falácia, o engodo a farsa do show pirotécnico. O milagre que sempre se busca nunca chega, percebe-se que o milagre é dado a uma pequena fração de pessoas, que muitas vezes recebe uma côngrua pelo teatro, um universo de dramas humanos se converte num universo de decepção.

A Igreja católica só reconhece um milagre oficialmente quando um comitê de médicos especialistas, depois de estudar profundamente o caso, chega à conclusão que não há explicação científica para o fenômeno. Deus só realiza milagres para educar o povo de Deus e um milagre é sempre algo que supera a capacidade humana, é um modo extraordinário de cura, isto é, fato excepcional que supera os meios convencionais.

            Muitas Igrejas sérias e líderes religiosos comprometidos com o Evangelho assistem no palco da vida esses tristes episódios. Ficam perplexos diante dessas duas ondas teológicas que eclodem no universo protestante e que fazem o protestantismo no Brasil entrar num profundo colapso. Caso o grande reformador Lutero vislumbrasse o quadro atual ele buscaria uma nova Reforma, não na Igreja Católica, mas nas diversas Igrejas protestantes.