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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Como e quando surgiu o dízimo? (parte 2)

Atualmente, o fruto de nossos esforços e o resultado de nosso trabalho é o salário, que é entregue sob a forma de dinheiro. Qualquer percentual a ser aplicado sobre o valor do salário terá como resultado uma certa quantia em dinheiro. O resultado do trabalho dos antigos eram alimentos, artesanatos e animais, então eles contribuíam com o templo doando alimentos, artesanatos e animais. Hoje, mesmo que o profissional se dedique a atividades rurais ou artesanais, o resultado do seu trabalho será sempre dinheiro, porque ele produz para comercializar. Logo o dízimo a ser ofertado, o produto a ser devolvido a Deus, através do templo, será dinheiro, por ser mais prático e melhor de se administrar pela paróquia ou comunidade.

É claro que se alguém quiser doar algum bem ou produto para a comunidade que freqüenta ou que vive será bem recebido, mas pensem na dificuldade do pároco para guardar um bode ou dois milheiros de bananas. Será uma grande dor-de-cabeça. Devido a estas dificuldades é que, de preferência, o dízimo seja devolvido em dinheiro. Embora lembrando que em muitas comunidades rurais as doações são feitas em frutas e animais.

Este era o costume dos povos da antiga aliança. No Novo Testamento Jesus não chegou a pregar abertamente sobre a devolução do Dízimo, mas mencionou que deveríamos fazer nossas doações a Deus:
Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário. Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição? De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mt 22, 19-21)
Se Jesus orienta o povo a dar a Deus o que é de Deus nós devemos compreender que é bom e agradável ofertarmos a Deus o que a Ele pertence. Paulo orienta as comunidades a realizar as suas coletas de acordo com a disponibilidade de cada um, ou seja, quem tem mais doa mais e quem tem pouco também doe conforme as suas possibilidades. Mas ninguém está isento de ajudar as obras de Deus, nem mesmo aqueles que têm pouco.

Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria. Poderoso é Deus para cumular-vos com toda a espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas as coisas o necessário, vos sobre ainda muito para toda espécie de boas obras.

Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre Aquele que dá a semente ao semeador e o pão para comer, vos dará rica sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça. Assim, enriquecidos em todas as coisas, podereis exercer toda espécie de generosidade que, por nosso intermédio, será ocasião de agradecer a Deus. Realmente, o serviço desta obra de caridade não só provê as necessidades dos irmãos, mas é também uma abundante fonte de ações de graças a Deus. Pois, ao reconhecer a experimentada virtude que esta assistência revela da vossa parte, eles glorificam a Deus pela obediência que professais relativamente ao Evangelho de Cristo e pela generosidade de vossas esmolas em favor deles e em favor de todos. (2Co 9, 6-13)

Podemos perceber neste ato de caridade uma ação de graças a Deus pelas bênçãos recebidas e, também, um ato de partilha em que supre a necessidade dos irmãos mais carentes, obedecendo às palavras de Jesus. Aquele que generosamente faz a sua doação com alegria, sabedor que é do agrado de Deus esta partilha, receberá bênçãos em abundância, pois este seu ato será reconhecido por Deus. A alegria de doar é sempre importante por ser a partilha movida pelo amor ao próximo e não um ato meramente mecânico, impulsionado pela obrigação de obedecer a Deus, mas vazio de fraternidade.

No Novo Testamento Jesus e os apóstolos não falam em quantitativos, ou seja, valores ou percentuais para os donativos à Igreja. As ofertas deveriam ser feitas de acordo com as possibilidades de cada pessoa. A Igreja carrega até hoje esta compreensão, não determinando valores nem impondo taxas, mas deixando os valores serem ditados pelo coração de cada um. Jesus ou os apóstolos não falam em dez por cento nem em nenhum outro valor pré-estabelecido.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – instituiu a volta do dízimo a partir do ano de 1969. Até então a Igreja se mantinha com a cobrança de taxas para casamentos, batizados, missas especiais, festas, bazares etc. Mas ainda não conseguiu extinguir esta prática até os dias atuais, principalmente por causa da pouca quantidade de católicos que assumem a prática do dízimo. Em muitas paróquias estas taxas ainda são a principal fonte de recursos para manter a missão da Igreja.

No compêndio do Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Papa Bento XVI em 28 de junho de 2005 e republicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ocorreu uma grande mudança que altera significativamente o sentido do dízimo ao trocar o termo “dízimos” (plural) – “pagar os dízimos conforme o costume” – no quinto mandamento da Igreja. Agora o mandamento é "Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades".

Com este novo sentido o dízimo (não mais plural), através do dizimista, assume o papel de ser co-responsável pela permanência dos trabalhos da Igreja no seio da comunidade. O dizimista assume a responsabilidade de manter os trabalhos evangélicos, os serviços pastorais, a manutenção do templo, ou seja, tudo que se relaciona com a missão da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Conforme esta nova redação todos os batizados são convocados a manter a Igreja funcionando de forma que a missão de Jesus tenha a continuidade pretendida por todos os Católicos. Não há mais razão para omissão, pois o mandamento não deixa mais dúvidas quanto a responsabilidade de cada um.

O padre Francisco de Assis Maria, CRSP, nos explica porque o dízimo assumiu esta importância no seio da Igreja Católica:
O Brasil terminou, com a proclamação da república em 1889, separando a Igreja e o Estado. A partir dessa data a Igreja teve que improvisar um meio de sustentar suas atividades. Foi quando surgiu o sistema de cobrança de taxas pelos serviços religiosos tais como: casamentos, batizados, encomendações de missas, etc... Que infelizmente, vigora até os dias de hoje devido a pouca adesão do católico à devolução do dizimo, pois no Brasil, o costume sempre foi com permissão da Igreja, em vista da pobreza do povo, pagar o que se pode, quando se pode e como se pode.1

Referências
1 - Maria, Pe. Francisco de Assis – CRSP. Disponível em http://www.loreto.org.br/jan2004_dizimo.asp.  Acesso em 06/06/2009.