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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Como e quando surgiu o dízimo? (parte 1)

É importante que se conheçamos as origens do dízimo. Só podemos aderir a algo se o conhecermos, entendermos a sua criação, sabermos seu significado,conhecermos seus objetivos. Entender as origens de algo é importante para entendermos a sua profundidade e razão de ser, para não corrermos o risco de transformar esta devolução a Deus em um ato mecânico, restrito ao âmbito financeiro, desligando-se do seu sentido original.  


Para começarmos a explicação é preciso deixar claro que o Dízimo não foi inventado pela a Igreja, que ela não tirou esta idéia do nada. O Dízimo é uma resposta do homem e da mulher à bondade e à misericórdia de Deus. Separar uma parte do que se recebe e levar para a obra do Senhor é costume que tem cerca de quatro mil anos ou mais.

“Desde os inícios, os cristãos levam, com o pão e o vinho para a Eucaristia, seus dons para repartir com os que estão em necessidade. Este costume da coleta, sempre atual, inspira-se no exemplo de Cristo que se fez pobre para nos enriquecer” (CIC, 1351)

Os israelitas foram o primeiro povo a crer em um Deus único, governante do universo e que nossa vida é fruto do Seu querer. Passou a ser parte integrante da vida deste povo o ato de agradecer a Deus o dom da vida, retribuindo com ofertas o que de Deus recebeu. E eles retribuíam as graças e dons recebidos de Deus oferecendo a Ele a décima parte de seus bens. O dízimo é, portanto, uma das mais antigas formas de agradecimento do ser humano a Deus. Os cristãos herdaram do povo judeu esta forma de prestar sua homenagem ao Criador.

No Antigo Testamento verifica-se a prática do Dizimo, quando as pessoas reconheciam a ajuda de Deus em tudo que produziam e ofertavam a décima parte das colheitas ou dos animais nascidos aos sacerdotes nos templos. Podemos citar entre tantas outras passagens: Abraão deu ao Senhor a décima parte de tudo” (Gen. 14,20). Jacó disse: “Eu te darei a décima parte de tudo o que me deres” (Gen. 28,22). Em Malaquias (3, 8-10) Deus reclama do povo o cumprimento do dízimo, em sinal de confiança nas graças que só Ele pode proporcionar: Pode o homem enganar o seu Deus? Por que procurais enganar-me? E ainda perguntais: Em que vos temos enganado? No pagamento dos dízimos e nas ofertas. Fostes atingidos pela maldição, e vós, nação inteira, procurais enganar-me. Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência - diz o Senhor dos exércitos - e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário. (Mal 3, 8-10)

Os israelitas entregavam suas doações em um cesto (sportula), que eram depositados no altar e ali se prostravam diante de Deus (cf. Dt  26, 2-12). Esta passagem demonstra o ritual que se cumpria para a doação das ofertas entre os antigos povos, caracterizando o sentido religioso desta doação. Este rito foi passado para o Cristianismo e atualmente pode ser observado no Ofertório, com a presença do cesto e na Oração Sobre as Oferendas:
tomarás as primícias de todos os frutos do solo, que colheres na terra que te dá o Senhor, teu Deus, e, pondo-as num cesto, irás ao lugar escolhido pelo Senhor, teu Deus, para aí habitar seu nome. Apresentar-te-ás diante do sacerdote, que estiver em serviço naquele momento, e lhe dirás: reconheço hoje, diante do Senhor, meu Deus, que entrei na terra que o Senhor tinha jurado a nossos pais nos dar. O sacerdote, recebendo o cesto de tua mão depô-lo-á diante do altar do Senhor, teu Deus. Dirás então em presença do Senhor, teu Deus: meu pai era um arameu prestes a morrer, que desceu ao Egito com um punhado de gente para ali viverem como forasteiros, mas tornaram-se ali um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios afligiram-nos e oprimiram-nos, impondo-nos uma penosa servidão. Clamamos então ao Senhor, o Deus de nossos pais, e ele ouviu nosso clamor, e viu nossa aflição, nossa miséria e nossa angústia. O Senhor tirou-nos do Egito com sua mão poderosa e o vigor de seu braço, operando prodígios e portentosos milagres. Conduziu-nos a esta região e deu-nos esta terra que mana leite mel. Por isso trago agora as primícias dos frutos do solo que me destes, ó Senhor. Dito isto, deporás o cesto diante do Senhor, teu Deus, prostrando-te em sua presença. Depois, alegrar-te-ás por todos os bens que o Senhor, teu Deus, te tiver dado, a ti e à tua casa, tu e o levita, e o estrangeiro que mora no meio de ti. Quando tiveres acabado dê separar o dízimo de todos os teus produtos, no terceiro ano, que é o ano do dízimo, e o tiveres distribuído ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que tenham em tua cidade do que comer com fartura, dirás em presença do Senhor, teu Deus: tirei de minha casa o que era consagrado para dá-lo ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, como me ordenasses: não transgredi nem omiti nenhum dos vossos mandamentos. (Dt, 26, 2-12)

Como se percebe, os antigos eram os responsáveis pela manutenção do templo e o sustento dos pobres. Ao levar a décima parte de sua produção ao templo eles estavam sendo co-responsáveis pela manutenção de sua comunidade. Era das suas doações que os pobres se sustentavam: os órfãos, as viúvas, os doentes, os estrangeiros e, também, os sacerdotes.

E de quem eles recebiam estes bens se eles mesmos haviam trabalhado para plantar? Eles haviam trabalhado a terra, eles haviam semeado a terra e a haviam irrigado e, depois colhido os frutos ou os grãos. Se eles haviam se esforçado tanto por que dizer que eles haviam recebido o fruto da colheita? Os judeus reconheciam que Deus havia lhes dado a terra em que plantaram (tomarás as primícias de todos os frutos do solo, que colheres na terra que te dá o Senhor, teu Deus) e a colheita também era um presente de Deus (por isso trago agora as primícias dos frutos do solo que me destes, ó Senhor). A terra era graça de Deus e os frutos desta terra também era graça de Deus.

Percebendo a bondade de Deus eles se apressavam a retribui-Lo assim que alcançavam os resultados que a colheita proporcionava, separando o resultado da primeira colheita (primícia) para oferta a Deus no Templo. Era assim com os grãos, com os animais, com as frutas, enfim, com o resultado de seu trabalho. A primeira colheita, a primeira cria dos animais, a primeira fornada dos pães, tudo era motivo para agradecer a Deus e recompensá-Lo pelos dons que eles recebiam. Era gratidão.

Naquela época não existia a Igreja Católica, não existiam os cristãos, mas o dízimo já era uma prática daqueles povos, então podemos ver que não foi uma invenção da Igreja e nem idéia de algum padre. Naquela fase da história o dízimo era praticado entregando-se alimentos, animais e mercadorias, até porque eles não possuíam o dinheiro; eram pessoas do campo e praticavam a troca, que era a forma usual daqueles tempos.

(continua...)