A comunicação que se pretende colocar em ação no interior da Igreja não é apenas a comunicação de mídia (internet, televisão, rádio, jornal e outros meios), mas, também, aquela proveniente do olho no olho, do aperto de mão, de um abraço e uma boa e sincera acolhida com um coração e sorriso abertos. Dar testemunho de Cristo através da vivência verdadeiramente cristã é, também, uma forma de comunicação, que também atinge o objetivo de se levar Cristo ao próximo.
Também se quer isentar esta comunicação de promoções pessoais, campanhas desarticuladas, de desperdício de recursos, de intrigas de grupos, visões destorcidas, uso indevido de mídias e outros fatores que tornam a comunicação dentro da Igreja um arremedo do que realmente poderia ser.
Muitas pessoas ainda não aceitam a introdução de novas formas de comunicação no processo de evangelização argumentando que o Evangelho não é produto para ser exposto e nem está à venda. Estes argumentos servem tanto para a adoção de técnicas de marketing como para a utilização da mídia em geral, seja ela TV, rádio, internet, jornal, carro de som ou panfleto.
Mas esta linha de pensamento está se tornando minoria na Igreja e a maioria dos padres e bispos já aceitam a implantação destas técnicas (de marketing e comunicação) já as utilizando, seja abertamente ou sutilmente. As inovações tecnológicas e as novas tecnologias podem e devem ser incorporadas à missão evangelizadora, visto que se tornaram indispensáveis ao cotidiano, tanto das pessoas quanto dos diversos tipos de organizações, sejam elas com objetivos de lucro ou não.
Os membros da Igreja Católica devem assimilar que a Igreja é uma rede de comunidades de irmãos e irmãs, cuja ação pastoral se dá de forma global, orgânica e articulada. Com esta compreensão a CNBB, já em 1966, elaborou o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto. Dentre as atividades fins propostas por este documento está a de “Promover o anúncio missionário da Palavra através dos meios de comunicação social”. Esta proposta está incluída na Linha de Trabalho nº 2, destinada a promover a ação missionária.
O concílio Vaticano II, por meio do decreto Inter-Mirífica, orienta que os meios de comunicação devem ser utilizados a serviço do Senhor, para anunciar a Sua palavra estando sempre a serviço do Reino de Deus e que a Igreja deve recorrer a eles para alcançar o maior número possível de fiéis: “compete à Igreja o direito nativo de empregar e possuir toda sorte destes instrumentos enquanto necessários e úteis à educação cristã e a toda a sua obra de salvação das almas”. O decreto ainda recomenda que “a comunicação seja sempre verdadeira, íntegra, honesta e equilibrada, observando as leis morais, a dignidade e os legítimos direitos do homem, tanto na busca das notícias, quanto na sua divulgação”.
Portanto, a utilização da comunicação deve ser explorada ao máximo visando a realização da missão eclesial que é levar o Evangelho a todos os povos, sendo os meios de comunicação um instrumento detentor do poder de influenciar as pessoas e levá-las à mobilização. Neste momento devemos refletir sobre o uso destes meios que podem tanto servir para a realização da missão da Igreja como pode ser utilizado para a realização do mal, ou seja, para disseminar tudo aquilo que a Igreja combate.
Para o mal já presenciamos o que os vários meios de comunicação se propõem com o espaço que conquistaram na sociedade: boa parte de sua programação, no caso das estações de rádio ou canais de televisão, são utilizadas para propagar valores que venham a fulminar a moral cristã; na internet, mais precisamente nos sites de busca, a palavra “sexo” (ou palavras similares) está entre as mais buscadas, porque a oferta é gigantesca.
Mas muitos perguntam: “onde está o problema de se falar em sexo?” É que este sexo oferecido na internet não é sexo sadio, mas aquele retratado por meio da pornografia, do bizarro, doentio. Nesta categoria se inclui aqueles relacionados à pedofilia.
Outros tantos exemplos poderiam ser destacados, pois o que não falta nos meios de comunicação é a divulgação de aberrações e de baixarias.A programação das rádios está repleta de músicas de baixíssima qualidade, cujas letras convidam as pessoas a ter um estilo de vida, no mínimo, irresponsável.
Por outro lado, existe uma reação da Igreja Católica que passa a ocupar mais espaços nos meios de comunicação. E deve ocupar porque quando se deixa um espaço vazio, ele imediatamente será ocupado por alguém. E quem será este alguém? Canais de televisão como a Canção Nova, Rede Vida e outros de nível nacional e também de nível regional passam a fazer parte da vida de muitos fiéis, oferecendo um conteúdo de melhor qualidade que pode ser assistido por toda a família, sem constrangimentos.
O mesmo ocorre em outros setores, como no rádio, com as rádios católicas que oferecem uma programação recheada de orações, reflexões e músicas religiosas e no setor gráfico, com inúmeros boletins e jornais. Ainda não há uma investida da Igreja Católica em lançar revistas para o seu público, espaço que outras igrejas já começaram a investir.
Já ocorre uma enxurrada de sites das paróquias, dioceses, comunidades, igrejas particulares, ou seja, a Igreja Católica descobriu que deve usar os meios de comunicação disponíveis. A internet por ser o meio mais barato, claro, ocupa o topo da preferência.
Mas daí surge outro problema. E é um problema que deve ser rapidamente discutido pelas lideranças católicas. Na internet constata-se uma infinidade de espaços mal ocupados. Inúmeros sites estão divulgando grupos, pessoas, ações isoladas que não traduzem seus verdadeiros objetivos e nem a missão da Igreja. Em muitos casos percebemos um culto à personalidade ou, então, se lê nas entrelinhas “o meu grupo é melhor que o seu” ou o famoso “olha eu aqui. Cadê você?”
É uma linha de ação equivocada por não representar o pensamento da Igreja e nem a mensagem cristã. Os grupos que formam a comunidade devem estar unidos e trabalhar de modo que passem a mesma mensagem, em um projeto único de evangelização, onde a soma das partes seja maior que o conjunto.
A comunicação deve ser realizada de uma forma que transmita alguma mensagem para quem a recebe, ou seja, a mensagem deve despertar algum sentimento em seu receptor, deve deixar uma marca, possuir valor. Se a mensagem não “toca” a pessoa que a recebe, for facilmente ou rapidamente esquecida, ela não atingiu o seu objetivo. É claro que, muitas vezes, uma simples imagem vale mais que mil palavras, mas isto não é regra geral. Um amontoado de fotos em uma página de jornal ou em um site da internet não transmite plenamente uma mensagem, não marca indelevelmente. Estas fotos devem estar em um contexto para transmitir a emoção desejada e cumprir seu objetivo.
Circulam pelas paróquias boletins e jornais repletos de informações desencontradas de seus próprios grupos, cada um trabalhando em uma direção diversa, jamais se encontrando. E qual a mensagem que oferecem à comunidade? Nenhuma. A comunicação deve ser planejada, assim como a atuação dos grupos. Os grupos devem atender às exigências do planejamento anual realizado na sua paróquia e trabalhar de forma que falem a mesma língua, abandonando a torre de Babel. Como escreveu Jaime Patias, IMC, em seu artigo A Comunicação na Igreja: “Se a Igreja conseguisse unir os diversos grupos de mídia católica em torno de um projeto conjunto de evangelização ultrapassando o individualismo, o sectarismo e a própria concorrência, ela daria um exemplo de comunhão que por si só evangelizaria”.
O mesmo ocorre nos sites que habitam a WEB. Quando, no mesmo endereço eletrônico, se navega de uma seção para outra dá a impressão de estar em outro site. É uma colcha de retalhos, não ocorrendo uma comunhão na forma de pensar e de agir. A comunicação deve ser tratada com muito mais amor por parte dos responsáveis. Muitos sites estão no ar devido à boa-vontade de algum fiel, que doa parte de seu tempo livre para alimentá-lo com um monte de “notícias e mensagens”, tudo com boa vontade, é claro, mas inócuo. Comunicação deve ser planejada, estudada, caso contrário perde o seu impacto e o efeito desejado, não atingindo objetivos.
A Igreja Católica reage lentamente diante das inovações tecnológicas e tem suas razões para isso, mas, deve-se considerar que a concorrência está utilizando a mídia de forma mais eficiente e mais rápida e a mensagem católica está sendo ultrapassada em termos quantitativos. A investida da concorrência é forte e alcança espaços em todos os setores sociais, porque se molda para atender a exigência da sociedade atual. A Igreja Católica ainda engatinha neste campo e suas ações são, em sua maioria, desarticuladas e mal planejadas, apesar de bem intencionadas e coerentes.
Então deve-se profissionalizar a comunicação nas paróquias e nas comunidades? Não necessariamente. Mas deve-se, isto sim, ter o cuidado de articular todo o processo de comunicação para que ele torne-se mais objetivo e alcance os fiéis. Observemos o caso da Canção Nova: toda a sua programação de final de semana é planejada. Se ocorre um acampamento cujo tema é a família, tudo o que acontecer naqueles dias, especificamente, tem como pano de fundo o tema família. Existe um fio condutor para todas as ações desenvolvidas. Todas as palestras, missas, shows e os demais eventos estão focados no mesmo tema. Daí decorre a assimilação da mensagem por parte dos freqüentadores do evento e dos telespectadores.
Em uma determinada paróquia ocorria a distribuição de um informativo mensalmente e em nenhum dos números publicados havia o horário das missas (nem da matriz e nem das comunidades). Nem o dia previsto para realizar batizados, adorações etc. São erros básicos que esvaziam os veículos de comunicação de público. Os artigos estavam desconexos e a distribuição restrita à matriz. Como não havia conteúdo que interessasse aos fiéis, os jornais eram “esquecidos” nos bancos. Não durou nem seis meses e deixou de ser publicado. A paróquia perdeu um importante veículo de comunicação e desperdiçou dinheiro dos dizimistas.
O mesmo risco correm os sites na internet. São sites que não se renovam, conteúdos que apenas enaltecem os coordenadores de pastorais ou que servem apenas para alimentar rivalidades de grupos e esquecem do principal: anunciar o Evangelho. Todos os grupos existem na Igreja apenas para isso: anunciar Jesus Cristo. Esta missão deve ser o foco de sua comunicação.
Há muito tempo que a Igreja católica já se preocupa com a unicidade de suas ações, no sentido de evitar que iniciativas pessoas venham a prejudicar o avanço das atividades pastorais católicas. Porém o universo católico é gigantesco e impossível de ter todas as suas ações fiscalizadas e monitoradas. Cabe a cada um dos membros da Igreja ter assimilado os ensinamentos do Concílio Vaticano II e, principalmente, os ensinamentos de Cristo.
Pode-se concluir que todos os meios de comunicação devem ser utilizados para levar a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo. Porém devemos usá-los de forma consciente, racional, planejada e em conjunto. Iniciativas individuais são bem vindas desde que utilizadas para servir à Missão, e não para satisfazer egos ou alimentar discórdias. A utilização indevida desta poderosa ferramenta de evangelização pode gerar desperdício de recursos e, pior, complicar mais ainda a situação ao invés de auxiliar o alcance dos objetivos.