André Luiz - Da Redação
Canção Nova
Desde os primeiros séculos, os
cristãos já visitavam os túmulos dos mártires para rezar por eles e por todos
aqueles que um dia fizeram parte da comunidade primitiva..
Logo, é possível se perguntar: o
que acontece após a morte? Para onde foram os que morreram? Céu e inferno são
realmente lugares ou apenas estados de espírito?
Padre Wagner Ferreira, Doutor em
Teologia Moral e Formador Geral da Comunidade Canção Nova, explica,
segundo a doutrina da Igreja Católica, o que acontece à pessoa após a morte. O
padre fala ainda sobre céu, inferno e purgatório e, esclarece a diferença
entre o juízo final e o fim do mundo.
noticias.cancaonova.com – Em
primeiro lugar, como devemos olhar a realidade da morte?
Padre Wagner Ferreira –
Quando a Igreja lida com a morte, Ela sempre tem o seu olhar voltado para o
Mistério de Cristo Vivo e Ressuscitado. Como diz o livro do Apocalipse, Ele é o
vivente. Ele é fonte de vida e ressurreição para aqueles que nele crêem. A
Igreja vê a realidade da morte como uma realidade dramática, que toca toda e
qualquer pessoa humana, mas ao mesmo tempo, tendo o seu olhar fixo em Jesus
Ressuscitado, a Igreja crê na morte humana como uma passagem, um momento em que
vamos definitivamente ao encontro de Deus, com muita esperança.
noticias.cancaonova.com – O
que a Igreja ensina sobre o céu e o inferno?
Padre Wagner Ferreira – O
céu é a própria vida de Deus, da Santíssima Trindade. Fomos salvos por Jesus
para viver eternamente na vida de Deus. No céu, nós experimentaremos plenamente
o amor do Senhor. É a nossa alegria eterna, a felicidade eterna. O inferno é
aquele estado da alma em que, a pessoa, com clareza, com consciência muito
clara, rejeitou a vida de Deus. É uma realidade dramática até pensar nisso.
Deus tem um amor profundo e imenso pela pessoa humana. Criou cada pessoa livre
e Ele não quer que ninguém O ame de forma obrigada. Deus não nos criou para
sermos robôs. Mas, no respeito da nossa liberdade, ele respeita também aquele
filho que quis dizer não a Ele. Portanto, o inferno seria esse momento
definitivo em que a pessoa escolhe de forma muito clara, uma existência eterna,
porém, sem Deus.
noticias.cancaonova.com – Segundo
a Bíblia e a doutrina Católica, o que acontece após a morte?
Padre Wagner Ferreira - A
partir da revelação bíblica, dos textos das Sagradas Escrituras, principalmente
os textos do Novo Testamento, a Igreja crê que as pessoas, depois de sua morte,
fazem a experiência do chamado juízo particular. Se elas estiveram, em sua vida
terrena, comprometidas com Deus, com os valores do Reino de Deus, da justiça,
do amor, da solidariedade para com o próximo e tudo mais, é claro que estas
pessoas viveram uma vida de seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo e vão
seguir o Senhor também em sua vitória na Ressurreição. Essas pessoas em seu
juízo particular, vão para a glória de Deus, para o Céu, para a Vida Eterna.
Agora, quem, infelizmente, viveu
sua vida terrena sem compromisso com Deus, com a fé, com o amor ao próximo, a
justiça, a solidariedade, depois de sua morte a pessoa segue para um juízo
particular de condenação. É Claro que Deus não condena ninguém, mas a pessoa
que, durante sua vida, escolheu uma vida sem Deus, descomprometida,
desvinculada do amor ao próximo, da solidariedade e assim por diante, ela mesmo
se condena. Mas, a Igreja nunca se pronuncia dizendo: tal pessoa foi para o
inferno! Por mais terrível que tenha sido aquela pessoa, jamais a Igreja se
pronuncia desta forma.
noticias.cancaonova.com – E
o purgatório, como compreendê-lo?
Padre Wagner Ferreira - Se a
pessoa procurou seguir a Cristo, mas em alguns momentos de sua vida, essa opção
pelo Senhor e pela vivência dos valores do Reino de Deus não foi vivida com
tanta coerência, a Igreja acredita que a pessoa passa, depois de sua morte, por
uma experiência de purificação final, antes de participar eternamente da glória
de Deus. É o que a Igreja chama de purgatório, ou seja, uma purificação final
para que a pessoa possa participar eternamente da glória de Deus.
noticias.cancaonova.com – Quanto
à salvação: é dom de Deus ou fruto do esforço humano?
Padre Wagner Ferreira - A
Igreja professa essa verdade, juntamente com o Apóstolo São Paulo: as pessoas
são salvas pela graça de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Mas, o Apóstolo São
Tiago também diz que se a fé não for acompanhada pelas obras ela é morta.
Portanto, se eu creio em Jesus Cristo, e entro numa dinâmica de Salvação, esta
fé me leva ao seguimento de Jesus, a um testemunho que se verifica em obras de
amor, de justiça, de solidariedade, e etc. Mas, aquele que diz: creio em Jesus
Cristo, mas no dia-a-dia não vive conforme esta fé na realidade, está enganado.
Uma autêntica fé em Cristo me leva a um compromisso com a verdade. São obras de
fé que testemunham a graça redentora de Cristo.
noticias.cancaonova.com – O
que dizem as Escrituras e a doutrina católica sobre o juízo final? Ele
corresponde também ao fim do mundo?
Padre Wagner Ferreira - O
juízo final é uma verdade de fé, presente nas Sagradas Escrituras, em diversos
textos bíblicos. A revelação bíblica e a tradição da Igreja nos ensinam que
Nosso Senhor Jesus Cristo, um dia, virá para manifestar plenamente a glória de
Deus na existência e na história humana. Jesus veio uma primeira vez,
estabeleceu definitivamente o Reino de Deus e, depois, Ele ascendeu à glória de
Deus. Mas, nós cremos que um dia Ele virá em sua glória para julgar os vivos e
os mortos. De modo a estabelecer definitivamente o seu Reino. A vinda gloriosa
de Jesus não significa fim do mundo ou destruição do mundo. Mas, será um
momento, segundo a Igreja, de renovação de todas as coisas, de um
estabelecimento definitivo do Reino de Deus, onde Deus será tudo em
todos.
noticias.cancaonova.com – E,
por que é preciso rezar pelos mortos?
Padre Wagner Ferreira - Esta
prática de oração pelos defuntos tem o seu embasamento nas Sagradas Escrituras.
Particularmente, existe uma passagem do segundo livro dos Macabeus capítulo 12,
versículo 46, que diz assim: “Eis por que ele, Judas Macabeu, mandou oferecer
este sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem
absolvidos de seu pecado”. Então, essa prática de rezar pelos defuntos é muito
antiga, vem desde o povo de Israel. Por isso a Igreja entendeu, desde a sua
origem, como uma prática importante. Nós somos chamados a rezar pelos fiéis
defuntos para que possam ser agraciados com a Misericórdia, com o perdão, com o
Amor de Deus. É uma prática piedosa e que a Igreja quis estabelecer um dia para
que todos nós, Igreja Peregrina, rezemos pela Igreja Padecente.