Pe Paulo Ricardo
Ante o momento inusitado pelo
qual a Igreja Católica está passando aumentou e muito o interesse das pessoas a
respeito da natureza e da estrutura do colégio dos cardeais, bem como pela
maneira que ocorrerá a escolha do novo pontífice. O primeiro passo é esclarecer
sobre o que são os cardeais. O Código de Direito Canônico, em seu cânon nº 349
diz:
"Cân. 349 — Os Cardeais da Santa Igreja Romana
constituem um Colégio peculiar, ao qual compete assegurar a eleição do Romano
Pontífice de acordo com o direito especial; os Cardeais também assistem ao
Romano Pontífice quer agindo colegialmente, quando são convocados para tratar
juntos as questões de maior importância, ou individualmente, nos vários ofícios
que desempenham, prestando auxílio ao Romano Pontífice no cuidado cotidiano da
Igreja universal."
Portanto, é justo dizer que, em
primeiro lugar, a função dos cardeais é eleger o novo Papa, mas também e não
menos importante, exercem a função de auxiliá-lo na condução da Igreja de
Cristo.
Nos primeiros séculos da Igreja,
quando ocorria a morte do pontífice, o clero de Roma reunia-se e elegia o novo
Papa. O clero formava-se pelo presbitério de Roma, os diáconos e os bispos que
estavam ao redor da cidade e das seis dioceses que recebem o título de suburbicárias,
pois estavam na periferia de Roma.
Contudo, o Papa não é somente o
Bispo de Roma, mas é também o sucessor de São Pedro, príncipe dos apóstolos e
por isso, pastor supremo da Igreja do mundo inteiro. Assim, tornou-se
inadequado que o clero de Roma fosse o responsável pela eleição, pois o que se
percebeu foi a escolha estava sendo feita de modo a atender as necessidades
locais da de Roma. Era preciso um respiro maior.
Criou-se então uma realidade
simbólica. Simbolicamente foram nomeadas pessoas para preencherem o lugar dos
bispos suburbicários, dos padres e dos diáconos de Roma. O colégio cardinalicio
é simbolicamente o clero romano, pois muitos deles nem mesmo moram lá. Ao
receberem o título de cardeal, recebem também simbolicamente uma paróquia na
diocese romana para que preencham o pré-requisito de fazerem parte, ao menos
simbolicamente daquele clero.
A partir da realidade da
simbologia é possível entender a estrutura do colégio do cardinalício. Existem
cardeais que são simbolicamente bispos, cardeais que são simbolicamente
presbíteros e cardeais que são simbolicamente diáconos. Todos os cardeais que
entrarão no conclave para eleger o novo papa são Bispos na vida real, mas
simbolicamente ocupam a vaga de um bispo suburbicário, de um presbítero em
alguma paróquia romana ou de um diácono em alguma diaconia de Roma.
Atualmente, a estrutura
hierárquica conta com seis cardeais bispos. O mais importante é o Cardeal Bispo
simbólico de Óstia (porto de Roma) e de Albano, que é o Cardeal decano Angelo
Sodano, secretário de Estado aposentado, o qual não entrará no conclave por ter
mais de 80 anos de idade. Ele foi precedido pelos Cardeais Joseph Ratzinger,
Bernadin Gantin e Agnelo Rossi, arcebispo de São Paulo, único Cardeal decano
brasileiro.
Historicamente, um outro cardeal
brasileiro ocupou o cargo de Cardeal Bispo: Dom Lucas Moreira Neves, que depois
de ser Cardeal de São Salvador, na Bahia, foi para Roma, onde tornou-se
prefeito da Congregação para os Bispos e recebeu o título de Cardeal Bispo da
diocese suburbicária de Sabina-Poggio Mirteto, que hoje é ocupada
simbolicamente pelo Cardeal Giovanni Battista Re, que irá presidir o conclave.
Interessante notar que dentre as
seis posições de destaque entre os cardeais bispos, nem todos irão adentrar ao
conclave por terem ultrapassado a idade limite. A conduta então é decrescer até
encontrar um cardeal bispo que preencha os requisitos. Nesse caso, somente dois
entrarão: Giovanni Battista Re e Tarcísio Bertone.
O Cardeal Tarcisio Bertone, além
de ocupar o cargo de Secretário de Estado do Vaticano, recebeu do Papa Bento
XVI a função de camerlengo, que, dentre outras atribuições, trata-se
historicamente do tesoureiro da diocese de Roma enquanto durar a sede vacante.
Atualmente existem 154 cardeais
presbíteros, 45 cardeais diáconos (os quais geralmente servem na cúria romana).
Este é o clero que irá eleger o novo Papa. O Papa Paulo VI decretou que somente
os cardeais bispos com menos de 80 anos na data do início do conclave poderiam
participar. Já o Papa João Paulo II, na Constituição Apostólica Universi
Dominici Gregis, de 22 de fevereiro de 1996, retificou o texto para a data do
início da sede vacante.
Seja como for, dos 209 cardeais
vivos somente 117 podem entrar no conclave, mas outros fatores podem interferir
na participação ou não de todos esses cardeais (questões de saúde e outras
previstas no CDC). Destes 117 cardeais somente 50 participaram do último
conclave, o que significa que o colégio atual não se conhece. A oportunidade
para isso se dará nas chamadas Congregações Gerais, que são encontros entre os
cardeais para discutir a situação da Igreja antes de adentrarem ao conclave
propriamente dito.
Cabe aos fiéis rezarem pelos
cardeais para que Deus os ilumine e abençoe de modo a cumprirem dignamente a
missão para a qual foram chamados: eleger o novo Papa. E pedir também que Maria
Santíssima entre em conclave com eles.