Os
discípulos de João Batista viviam uma vida ascética, a exemplo de seu Mestre.
Já os discípulos de Jesus, ainda que pobres, formavam um bando bastante
informal e alegre, sempre disposto a se reunir em torno de uma mesa. O próprio
Jesus confessa: “Desejei ansiosamente comer esta ceia convosco!” (Lc 2,15.) Os
adversários vão dar-lhe o rótulo de beberrão e comilão (cf. Lc 7,34).
Entre
os hebreus, o jejum costumava ser um sinal de luto. Os contemporâneos do Rei
Davi estranharam quando ele interrompeu seu jejum logo após a morte do filho
que tivera com Betsabé (cf. 2Sm 12,21). Daí a resposta de Jesus quando os
discípulos de João vão até ele, perguntando por que seus discípulos não
jejuavam: é que o Esposo estava com eles e durante as bodas ninguém faz jejum.
A
primeira lição, para nós, é que Jesus é o Esposo. A Igreja é a noiva, que ele
deverá encontrar sem mancha e sem ruga. A cena das Bodas de Caná tem sido
interpretada pelos exegetas como uma espécie de antecipação do Banquete do
Cordeiro. A fartura de vinho aponta nessa direção.
A
segunda lição, menos agradável, é que o Esposo nos pode ser tirado. No caso dos
discípulos, isto aconteceu quando Jesus foi crucificado e morto. As lágrimas de
Pedro, de Madalena e das santas mulheres compunham o cenário. Mas a mesma
experiência foi vivida pelos cristãos sob perseguição nazista ou comunista, na
Alemanha ou no Camboja. Era como se lhes tivessem roubado o Esposo.
E
nada garante que também nós não passaremos por isso. A crescente invasão do
paganismo em todas as esferas da vida social e política, aliada ao desprezo e
às agressões cometidas pela mídia capitalista contra as tradições do povo
cristão – tudo sugere que os cristãos podem transformar-se em uma minoria
indesejável e incômoda para os novos pagãos.
Não
precisamos esperar por isso para jejuar. Podemos começar nosso jejum por
aqueles que já são perseguidos, como nossos irmãos do sul do Sudão e da nova
China, presa preferencial de ativistas muçulmanos e dirigentes comunistas.
Um
jejum de alimentos, sim. Mas também um jejum de televisão, de programas
mundanos, de lazeres que dissipam a alma. E acima de tudo, um jejum de pecado.
Porque de nada adianta fazer jejum e continuar apegado aos mesmos pecados de
sempre...
Orai sem cessar: “Aquele que eu amo, não o vistes?” (Ct 3,3)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.