Frei Ildo Perondi, OFMCap
Certa vez depois de assessorar um curso em Curitiba, um tanto cansado, tomei um ônibus para retornar à minha Fraternidade em Londrina. Ao meu lado sentou-se uma moça. Quando nos apresentamos ela perguntou o que eu fazia e respondi que era Frei.
– A vida de vocês deve ser muito sofrida, né? – disse-me ela.
– Nem tanto – respondi. Mas por que você pensa assim?
– É que vocês padres e freiras parecem tão tristes. Acho que é uma vida muito difícil...
Continuando a viagem conversamos muito e sobretudo quando eu disse que era biblista ela me fez muitas perguntas. Contei até algumas piadas a ela para mostrar que também sabia sorrir e me divertir com a vida. Porém, dentro de mim ficou esta dúvida: será que é esta mesmo a imagem que o povo tem de nós? É real? E se for, por que será que é assim?
Daí em diante procurei olhar mais para os religiosos e religiosas que ia encontrando. Depois de algum tempo, fui quase me convencendo que a moça não estava tão errada assim. Boa parte dos religiosos e das religiosas vive um tanto triste e demonstra no próprio rosto um ar de sofrimento.
A princípio, podemos dizer que alguns de nós, de fato, temos motivos para isso. Muitas vezes somos o retrato do povo com quem convivemos. Acho importante o que afirmou o Cardeal Lehmann: “A Igreja está doente, mas ela vive numa sociedade doente! Ela não seria a Igreja do povo se ela não conhecesse as doenças do povo”1. Dizer que padecemos as dores do povo, por um lado, pode parecer estranho. De outro lado, é sinal que estamos inseridos neste mundo e carregamos conosco o fardo e o sofrimento do povo. Ai de nós se não fosse assim!
A Vida Religiosa tem uma missão importante neste mundo em que vivemos e na Igreja à qual pertencemos. Ser religioso ou religiosa é fazer parte daquele grupo de pessoas que foram escolhidas, chamadas e que responderam afirmativamente ao chamado de Deus, colocando-se a serviço do seu projeto. Mas, temos também uma meta: buscar a nossa realização como pessoas humanas, sendo sinal no meio ao povo.