Devido ao seu amor à verdade algumas vezes envolvia-se em alguma polêmica, como no caso do vidente de La Salette: no ano de 1850 conversou com Maximino, o vidente de La Salette, e concluiu que o mesmo não havia visto Nossa Senhora. Os bispos da região o repreenderam, pois todos estavam convictos da verdade da revelação do vidente, mas Pe. Vianney não voltou atrás em sua afirmação.
Não há como enumerar os inúmeros casos de curas operados entre os peregrinos que acorriam a Ars, devido a intervenção de Pe. João Vianney. Um dos beneficiados pela intervenção do Cura chegou a dizer-lhe que “basta que digais apenas: quero que estejas curado e a cura está feita”. As curas eram realizadas na capela de Santa Filomena, para onde Vianney os encaminhava após as confissões e aconselhamentos.
Foi alvo de calúnias e difamações de paroquianos que estavam sob o efeito da mesquinhez e da inveja. Padres de regiões próximas encolerizavam-se com o assédio de seus paroquianos à paróquia de Ars e tentavam difamá-lo. Mas as peregrinações aumentavam dia após dia.
Apesar de caluniado e difamado ninguém jamais o acusou de charlatanismo. Ele conseguia “ler” as almas que o procuravam no confessionário como se estas fossem páginas escritas e, ao conversar com os peregrinos, falava sobre coisas que seria impossível que ele conhecesse. Em muitos casos já sabia o que os penitentes iam relatar, chegando a corrigir as pessoas que tentavam amenizar os seus pecados. Estudiosos relacionaram 187 casos de comunicação telepática comprovadas. Ele realizava tudo isto sem buscar autopromoção nem engrandecer-se diante dos homens, mas para realizar o projeto de Deus. Os prodígios, as curas realizadas, a leitura das consciências são considerados carismas e sinais de sua santidade.
João Maria Vianney era profundamente místico e muitas testemunhas atestaram que ele não procurava as graças místicas. Durante as pesquisas realizadas no seu processo de canonização foram identificadas semelhanças fenomenológicas entre as graças orientadas para a união com Deus e faculdades parapsicológicas.
As curas obtidas por João Vianney em vida devem ser entendidas como uma graça enviada por Deus obtida por meio de muitas orações. Foram 38 curas milagrosas! Mas ele não considerava importante todos os carismas recebidos, mas apenas procurava agradar a Deus através da oração e da penitência, pois não era um curandeiro de uma aldeia, mas, sim, um imitador de Cristo. A sua receita para a busca da santidade era “eu lhes dou uma pequena penitência e o resto eu faço em seu lugar”, pois tinha a certeza de que os homens não eram capazes de grandes penitências, sendo sua missão, portanto, fazê-las em seu lugar. Nada disso afetava a humildade deste homem que, apesar da repercussão causada pela realização de sua obra, tentou várias vezes fugir de tudo e entrar para um mosteiro.
Não bastasse a inveja dos homens, aqui na terra, que a todo custo tentavam caluniá-lo e macular a sua figura, João Vianney ainda tinha outro inimigo a persegui-lo de forma constante: o próprio diabo. Igualmente a outros santos pe. Vianney era visitado regularmente à noite pelo diabo, apelidado de grappin (gancho). Durante 25 anos estas visitas barulhentas foram feitas de forma rotineira.
Afastava o demônio de todos os que lhes acorriam, porém suportava aquele que lhe atormentava, todas as noites, as suas poucas horas de sono. Seus vizinhos não entendiam o barulho que vinha da residência do padre todas as noites, sem saberem que era o diabo tentando perturbá-lo, até que, uma noite, ateou fogo em seu colchão. A reação do padre foi dizer que “Não podendo queimar o passarinho, botou fogo na gaiola”. Este e outros depoimentos colhidos de testemunhas oculares, sob juramento, constam de seu processo de beatificação e canonização.
São fatos ocorridos entre os anos de 1824 e 1855, como, também, a pia de água benta arrancada da parede e quebrada, crucifixos e outros objetos de presbitério deslocados sem interferência do santo. São fatos aos quais ele não dava publicidade para não chamar a atenção sobre a sua pessoa, pois mais importante era a sua missão.
Porém nada disso o abalava moralmente ou espiritualmente, nem as calúnias, as difamações, as perseguições sofridas por pessoas a serviço do Estado, além do demônio a perturbá-lo... Tudo o fortalecia, trazendo-lhe a alegria para sua alma, sabedor que era do amor de Deus por seus filhos e isto o fez viver na confiança da misericórdia d’Ele, que o libertava da tentação do desespero. Seus últimos dias de vida foram preenchidos por uma paz interior, em que sentia no coração uma quase concreta felicidade de amar a Deus.
Continua na próxima semana.