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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Pode a Tradição ser confiável ?

Professor Evaldo Gomes

Os solascripturistas apresentam uma dificuldade: mas como pode a Tradição ser confiável, se ela pode ser deturpada com o tempo como a brincadeira do telefone-sem-fio? Aliás, esse é o grande argumento dos solascripturistas. Tenho lido muitos textos dos defensores da Sola Scriptura e tenho percebido que todos os argumentos se encaminham para essa hipótese. Mas veja: São Paulo, por exemplo, não tinha esse receio, pois confiava na Tradição. Se assim não fosse, não teria dito a Timóteo: "E o que de mim, através de muitas testemunhas ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros." (2 Tm 2,2). S. Paulo disse isso porque reconhecia a Igreja como a Coluna e o Fundamento da Verdade (1Tm 3,15) e que ela guardaria fielmente a doutrina revelada (Mt 16,18-19). Observe que o apóstolo reconhece a autenticidade não só de suas palavras, mas também da transmissão dessa palavra. Se para ele o oral iria se corromper, seria muito estranha essa afirmação.
Mais: Se a Tradição não fosse confiável, o cânon bíblico não teria sido baseado nela. Além disso, da mesma forma que uma Tradição pode ser deturpada, um livro também pode. A prova disso é a existência de livros apócrifos. O próprio S. Paulo reconheceu isso ao dizer: ”Não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação, nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós... Ninguém de modo algum vos engane.” (2Ts 2,2.3). E essa deturpação ainda é mais fácil quando os escritos originais se perdem, como é o caso de inúmeros livros da Bíblia.
A única maneira, portanto, para sabermos quais os livros autênticos que temos hoje é exatamente identificarmos quais os livros que sempre foram acatados pela autoridade da Igreja. Exatamente pelo fato de existirem diferentes escritos é que uma autoridade teve de se pronunciar para identificar e definir quais eram realmente autênticos e quais não eram. E essa autoridade, como todos sabemos, foi justamente a Igreja Católica. Para se preservar uma verdade, é realmente mais seguro delegar autoridade a alguém para que a guarde. O papel e o homem se acabam; a Igreja, porém, ficará até o fim dos tempos. Foi justamente por isso que Sto. Agostinho disse que “não creria no Evangelho, se a isso não o levasse a autoridade da Igreja”. O engraçado está justamente aqui. Os solascripturistas falam como se somente o oral fosse sujeito à corrupção. Parece que estão cegos para reconhecer que os escritos também são passíveis de erro. Ou vão negar o óbvio? E mais: se Deus é capaz de preservar o escrito da corrupção, por qual motivo não o seria para preservar o oral? Ou Ele não é Deus? E outra: onde está nas Escrituras que o oral iria se corromper?
Além de tudo isso, não tenham receio os solascripturistas, pois a Sagrada Tradição mais tarde foi passada para a forma escrita e transmitida por inúmeras modos. Tais modos são:
1) os Símbolos - o símbolo dos Apóstolos, de Niceia, de Santo Atanásio.
2) os Concílios - os concílios gerais são a voz da Igreja universal. Todos embasaram suas decisões sobre o ensinamento anterior e particularmente sobre as dos primeiros séculos. Sua doutrina não pode diferir da dos apóstolos.
3) Os escritos dos Santos Padres - Os escritos dos santos padres são o grande canal da Tradição Divina.