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sábado, 28 de abril de 2012

Os Direitos da religião

Por Arcebispo Fulton Sheen
(www.razoavelcrer.blogspot.com)

"Demonstra a história que, se uma sociedade ignora a religião, nunca se transforma exatamente em um sociedade irreligiosa, torna-se anti-religiosa. A vida é apenas a soma das forças que resistem à morte, e uma vez terminada a resistência a essas forças contrárias começa o desaparecimento.
Do mesmo modo, no mesmo instante em que se nega a religião o direito de interferir na ordem política e econômica, apodera-se destas a anti-religião. A ordem secular nunca vive no vácuo; nem mesmo neutra pode ser; se os cidadãos de um Estado abandonaram a religião e o seu dever de dar a Deus que a Deus pertence, imediatamente julgará César que até Deus recebe Sua autoridade de César.
É então permitido a qualquer propagandista barato de Moscou ou Berlim, pregar o seu ateísmo ou seu racismo, enquanto o homem de Deus que prega a justiça e a caridade é tido como um inútil intruso. O ódio de classe é mau fruto do desprezo da justiça; a desonestidade em política é a triste herança do desprezo da justiça; o comunismo na vida nacional é o resultado do desprezo da redenção e do amor fraterno.
O mundo comete um grave erro ao pensar que pode deixar a religião fora de sua norma de procedimento nacional e continuar a ser o mesmo mundo de antes. Seria isso verdade se a religião não passasse de um acidente da ordem social como as corridas de cavalos, e não a soma das virtudes que condicionam a justiça e a paz. A casa vazia seria afinal, a casa arruinada e a sociedade anti-religiosa será, afinal, a sociedade anti-religiosa. A religião que não interferir na ordem secular logo descobrirá que a ordem secular não se absterá de interferir nela, tal qual a mãe que se abstém de corrigir os seus filhos desobedientes verá breve os filhos a corrigi-la.
O mesmo mundo que há vinte anos aceitava ser a religião desligada da economia e da política, é o mundo que hoje hostiliza a religião. Não é bem porque a violência, o ateísmo, o racismo sejam consequências ao declínio da religião, como o castigo se segue ao ato de desobediência; é antes porque são eles inseparáveis, como um lírio podre e seu desagradável odor, ou a semeadura e a colheita.
Se o camponês não plantar trigo, não ficará estéril seu campo no outono; cobri-lo-ão as ervas daninhas. Deixai os homens crescer sem cuidarem se sua alma pertence a Deus ou a César, e, antes que eles saibam, César os possuirá de corpo e alma. Chama-se isso totalitarismo ou teoria Estatal, que diz que o homem pertence ao estado. Tal regime deve necessariamente perseguir a religião, pois para possuir o homem ele tem de desprezar a religião que afirma que o homem tem direitos independentes do Estado.
Em princípio, uma filosofia totalitária que nega o valor à pessoa humana fora da raça ou da classe, é necessariamente anti-religiosa. O totalitarismo tem de agir assim se quiser sobreviver, pois nunca poderá possuir inteiramente o homem enquanto não alijar a Igreja, que diz que o homem não pertence inteiramente ao Estado. A Igreja opõe-se a tal absorção do homem pelo totalitarismo e por esta razão é perseguida.Uma vez que o Estado inclui a religião sob a política, toda e qualquer atividade religiosa da parte da Igreja passa a ser encarada como uma interferência política.
O totalitarismo é errado não por ter um ditador, mas porque o ditador está dispondo até da alma do homem, ao fazer da pessoa um meio para um fim, do homem um aspecto econômico do Estado, ou uma gota de sangue do organismo político, ou um operário do Estado-fábrica.
Quanto mais insistir a Igreja em seu direito à alma do homem tanto mais será perseguida; eis que tem ela sido chamada "reacionária" no México; "anti-revolucionária" na Rússia; "política" na Alemanha; contra-revolucionária" em Barcelona. César crucificará o Cristo sempre que César julgar que ele próprio é Deus"

Fonte: O Problema da Liberdade - Fulton Sheen - Editora Agir