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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Entrevista D. Javier Echevarría sobre a Missa

Jesús Colina / www.zenit.org

A Santa Missa é uma questão de amor, afirma D. Javier Echevarría, prelado do Opus Dei, quando lhe pedem um conselho para todos aqueles que nalgum momento se aborreceram na Celebração Eucarística.
A este sacramento, D. Javier Echevarría,que, juntamente com D. Álvaro del Portillo, foi a pessoa mais próxima de São Josemaria Escrivá de Balaguer, dedica o seu último livro, “Viver a Santa Missa”.
D. Javier Echevarría, membro da Congregação para as Causas dos Santos e do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, consultor da Congregação para o Clero e membro honorário da Academia Pontifícia de São Tomás de Aquino, procura, com este livro, redescobrir o amor à Eucaristia, “que deve ser o centro da nossa vida”, como explica nesta entrevista concedida à Zenit.

- Que recomendaria aos católicos que dizem que se “aborrecem” na Missa?
D. Javier: Eu recomendar-lhes-ia que participassem com sinceridade na Missa, procurando e amando Jesus. São Josemaria escreveu em Caminho: “Dizes que a Missa é longa, mas eu acrescento: porque o teu amor é curto”.
Não podemos dar muita importância ao sentimento: entusiasmo ou apatia, vontade ou falta dela. A Missa é sacrifício: Cristo entrega-se por amor. É uma acção de Deus e não podemos captar plenamente a sua grandeza, dada a nossa condição limitada de criaturas. Mas podemos fazer o esforço não só de estar na Missa, mas de  viver a Missa em união com Cristo e com a Igreja.
- Quando descobriu o mistério que a Eucaristia esconde e revela? - D. Javier: Graças a Deus, procuro redescobri-lo todos os dias: na liturgia da palavra – que ajuda a manter o diálogo com Deus ao longo do dia – e na liturgia eucarística. Deveríamos admirar-nos sempre diante desta realidade que nos supera, mas na qual o Senhor nos permite participar, ou melhor, nos convida a participar.
Na Missa, não só se cumpre uma comunicação descendente do dom redentor de Deus, mas também uma mediação ascendente, oferecimento do homem a Deus: o seu trabalho e os seus padecimentos, as suas penas e alegrias, tudo isso unido a Cristo: por Ele, com Ele e n’Ele. Não posso deixar de dizer que ver como São Josemaria celebrava o Santo Sacrifício produziu em mim um sério impacto, ao contemplar a sua devoção eucarística diária.
Ajuda profundamente a consideração de que, na apresentação das oferendas, o sacerdote pede a Deus que acolha o pão e o vinho, que são “fruto da terra (ou da videira) e do trabalho do homem”. Em qualquer circunstância, o homem pode oferecer o seu trabalho a Deus, mas na Missa essa oferenda alcança o seu pleno sentido e valor, porque Cristo a une ao Seu sacrifício, que oferece ao Pai pela salvação dos homens.
Quando a Missa é o centro e a raiz do dia do cristão, quando todas as suas actividades estão orientadas para o sacrifício eucarístico, pode afirmar-se que todo o seu dia é uma Missa e que seu local de trabalho é um altar, onde se entrega plenamente a Deus, como seu filho amado.

-Bento XVI, no seu pontificado, está a impulsionar uma redescoberta da imensidade deste sacramento. O que mais lhe chamou a atenção das palavras ou gestos do Papa sobre a Eucaristia?
- D. Javier: Parece-me especialmente importante, neste momento, a sua insistência em que a liturgia é acção de Deus e, como tal, é recebida na continuidade da Igreja.
O Papa escreveu que a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada. Portanto, o primeiro dever de piedade do sacerdote que celebra ou do fiel que participa na Missa é a observância atenta, devota, das prescrições litúrgicas: a obediência da pietas.
Por outro lado, o Papa também insiste em que a Eucaristia é o coração da Igreja: Deus presente no altar, o Deus que está perto, que edifica a Igreja, que reúne os fiéis e os envia a todos os homens.
-Algo mais pessoal: das suas recordações, o que era a Eucaristia para São Josemaria? Que papel tinha no seu dia-a-dia?
- D. Javier: Ajudei São Josemaria na Missa muitas vezes. Nessas ocasiões, ele costumava pedir-me que rezasse para que não se acostumasse a celebrar aquele acto tão sublime, tão sagrado. Pude comprovar, de facto, algo que ele me disse uma vez: que experimentava a Missa como trabalho: um esforço às vezes extenuante, tal era a intensidade com que a vivia.
Ao longo do dia, costumava recordar os textos que tinha lido, em particular o Evangelho, e, muitas vezes, comentava-os com naturalidade, como um alimento da sua vida espiritual e humana.
Estava consciente de que, na Missa, o protagonista é Jesus Cristo, não o ministro, e de que o cumprimento fiel das prescrições permite que o sacerdote “desapareça”, para que só Jesus brilhe. Muitas pessoas  que assistiram à sua Missa – inclusive nas circunstâncias difíceis da Guerra Civil Espanhola – comentavam depois que a sua forma de a celebrar tinha algo que as tocava profundamente e sentiam-se convidadas a crescer na sua devoção ao Santo Sacrifício.
Estou convencido de que o que tocava os que participavam – os que participávamos – na sua Missa era precisamente isso: ele deixava que Cristo aparecesse, não a sua pessoa.