Padre Paulo Ricardo
Embora não se encontre na literatura católica nenhum
documento que traga a definição ou demonstre a diferença entre a natureza da
beatificação e da canonização de uma pessoa, é sabido que essa diferença existe.
Todos os Santos (Fra Angelico) |
Para responder ao questionamento de forma católica,
necessário se faz recorrer às bulas papais que decretaram uma e outra situação,
de modo que a linguagem nelas utilizada esclareça a diferença entre os dois
atos.
A beatificação é uma permissão de culto. Frágil
enquanto sentença e que, geralmente, atende ao anseio de uma comunidade
específica (um país, uma ordem religiosa etc.), porém, faltando ainda aquela
nota de universalidade típica do ser católico.
A canonização, por sua vez, é uma prescrição de culto,
inclusive algumas bulas trazem a ordem expressa de culto e outras trazem
anátemas para quem não aceitar a santidade decretada.
O núcleo da diferença entre um ato e o outro é o fato de
que, na beatificação não existe um pronunciamento explícito quanto à certeza de
que a pessoa beatificada está na glória do céu. Já na canonização existe essa
atestação pontifícia, tanto vida virtuosa como modelo de santidade, quanto da
certeza de que aquela pessoa declarada encontra-se na Igreja triunfante.
A canonização é, portanto, um ato político, no sentido mais
puro da palavra, ou seja, é um ato de influência social que visa o bem comum
das pessoas. O Catecismo da Igreja Católica, em seu número 828, diz que:
"Ao canonizar certos fiéis, isto
é, ao proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes
e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do Espírito
de santidade que está em si e sustenta a esperança dos fiéis, propondo-os como
modelos e intercessores."
A salvação está disponível para todos, para tanto, existe o
Purgatório. Já a santidade é para poucos, pois, o santo é aquele que viveu de
tal forma a vida em Cristo que não necessitou do remédio do Purgatório e ao
morrer foi direto para o céu.
A canonização é uma sentença definitiva e irrevogável, na
qual o Papa afirma, utilizando-se do seu poder pontíficio, que aquela pessoa
viveu de forma extraordinária a graça do primeiro mandamento que é amar a Deus
sobre todas as coisas e que, por causa disso, serve como modelo para todos
aqueles que almejam viver a mesma Graça.