Homilia significa
conversa familiar e trata-se de um discurso religioso que explica e atualiza a
Palavra de Deus em beneficio da comunidade celebrante. Ela é o elemento
essencial da celebração judaica e das religiões dela derivadas.
Há também outras maneiras de celebração da Palavra como a cantata luterana e as
composições de J. S. Bach, G. F. Haendel e J. Brahms que são verdadeiras
homilias musicais. Com o Vaticano II houve uma verdadeira explosão de cânticos
bíblicos. Há também as realizações da estatuaria e dos vitrais, que
transformaram as catedrais da Idade Média numa bíblia ilustrada. A Palavra não
deve ficar prisioneira das leituras e da homilia, existem outras possibilidades
de sua difusão na celebração, como a saudação, as introduções às leituras e ao
Pai Nosso, a fórmula de despedida, etc. estas são como que um eco da Palavra de
Deus.
O exemplo mais perfeito de homilia como tradução da Palavra é a homilia de
Jesus na sinagoga de Nazaré. “Hoje se cumpriu este oráculo que acabais de
ouvir” (Lc 4, 21), este “hoje” de Jesus é o centro de toda a homilia, pois a
sua finalidade será sempre traduzir a Palavra de Deus mostrando sua atualidade.
O caminho da tradução da Palavra à sua atualização comporta algumas passagens
obrigatórias como a busca do sentido literal, que consiste na procura do
significado exato do texto; a busca do sentido cristológico, onde, à luz da
ressurreição, somos chamados a descobrir em cada página da Lei, dos Profetas e
dos Salmos a face de Jesus (Cf. Lc 24, 44) e, por último, a busca da
atualização, que procura encarnar a Palavra de Deus na vida da comunidade, de
fato, a homilia começa precisamente quando compreendemos que essa Palavra se
cumpriu hoje para nós. Essa estrutura tripartida é fundamental, entretanto,
conforme a comunidade ou o texto bíblico será necessário insistir ora no
sentido literal, ora no cristológico, ora na atualização.
Cada vez que a Palavra é proclamada, é preciso atualizá-la. Convém, portanto
fazer homilia em cada missa, porém não é necessário que ela seja longa ou fale
de todos os textos bíblicos. A homilia não é simplesmente um discurso humano
sobre Deus, mas Palavra de Deus ao nível da comunidade que celebra. Oxalá que
nossas palavras na homilia se apresentem como uma palavra de Jesus.
Na bíblia há os mais diversos gêneros literários, o mais antigo é o mito, mas
há o histórico documentário, épico e temático, o gênero lírico, didático,
jurídico, apocalíptico e o epistolar. Com freqüência eles se misturam
enriquecendo-se assim mutuamente. A homilia pode adotar todos os gêneros
literários da Palavra que ela atualiza, só lhe é pedido que ela desemboque no
que Deus diz hoje à comunidade.
A homilia que expõe os mistérios da fé a partir do texto sagrado está reservada
ao padre e ao diácono. Porém é toda a Igreja – e não somente o sacerdócio ou a
hierarquia – que celebra a Palavra e que participa da função profética de
cristo, pois Ele confiou a Escritura e sua compreensão à Igreja inteira. Os
leigos não se conformam mais em serem destituídos de seu carisma profético. Na
verdade a homilia é dever de cada um, pois cada um pode dizer: “Fala, Senhor,
que teu servo escuta”.
É preciso, para compreender a Palavra de Deus, a mesma graça
que foi necessária para proferi-la e para redigi-la. Nesse sentido deve-se
afirmar a necessidade da oração ao Espírito para compreender bem as palavras e
poder explicá-las corretamente à comunidade. Por outro lado aquele que escuta a
homilia também deveria preparar-se para isso a fim de recebê-la segundo o mesmo
Espírito. A homilia vive na oração como o pássaro voa no céu.
Por fim, a dignidade do pregador se baseia sobre a da homilia,
ou seja, se esta é Palavra de Deus, o pregador é profeta. Neste ministério
convém ser humilde, pois o pregador anuncia a salvação do mundo, mas carrega o
peso da sua própria miséria.
Referência:
Deiss, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada – Teologia da celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 75-108.
Deiss, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada – Teologia da celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 75-108.