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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 7 de junho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção de Bento XVI pronunciada durante a audiência geral desta quarta-feira, dedicada a comentar o tema “Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja”.
Queridos irmãos e irmãs:
Reiniciamos as catequeses semanais que começamos nesta primavera. Na última delas, há quinze dias, tínhamos falado de Pedro como o primeiro apóstolo; hoje queremos voltar a falar mais uma vez sobre esta grande e importante figura da Igreja. O evangelista João, ao narrar o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André, constata um dado singular: «Jesus, fixando seu olhar nele, disse-lhe: ?Tu és Simão, o filho de João, tu te chamarás Cefas - que quer dizer, Pedra» (João 1, 42). Jesus não costumava mudar o nome de seus discípulos. Com exceção do apelido de «filhos do trovão», dirigido em uma circunstância precisa aos filhos de Zebedeu (cf. Marcos 3, 17), e que depois não utilizará, nunca atribuiu um novo nome a um de seus discípulos. Contudo, ele o fez com Simão, chamando-o de Cefas, nome que depois foi traduzido em grego como «Petros», em latim «Petrus». E foi traduzido precisamente porque não era só um nome; era um «mandato» que Petrus recebia desse modo do Senhor. O novo nome, «Petrus», voltará a aparecer em várias ocasiões nos Evangelhos e acabará substituindo seu nome original, Simão.

Este dado alcança particular importância se levamos em conta que, no Antigo Testamento, a mudança de nome anunciava em geral a entrega de uma missão (cf. Gênesis 17, 5; 32,28ss, etc). De fato, a vontade de Cristo de atribuir a Pedro um especial destaque dentro do colégio apostólico se manifesta através de numerosos indícios: em Cafarnaum, o Mestre se hospeda na casa de Pedro (Marcos 1, 29); quando a multidão se reúne na margem do lago de Genezaré, entre as duas barcas amarradas, Jesus escolhe a de Simão (Lucas 5, 3); quando em circunstâncias particulares Jesus só fica em companhia de três discípulos, Pedro sempre é recordado como o primeiro do grupo: assim sucede na ressurreição da filha de Jairo (cf. Marcos 5, 37; Lucas 8, 51), na Transfiguração (cf. Marcos 9, 2; Mateus 17, 1; Lucas 9, 28), e por último durante a agonia no Horto do Getsêmani (cf. Marcos 14, 33; Mateus 16, 37). A Pedro se dirigem os arrecadadores de impostos para o Templo, e o Mestre paga por ele e por Pedro, e não apenas por ele (cf. Mateus 17, 24-27); foi o primeiro a quem Jesus lavou os pés na última Ceia (cf. João 13, 6), e só reza por ele, para que não desfaleça na fé e possa confirmar depois nela os demais discípulos (cf. Lucas 22, 30-31).
Por outro lado, o próprio Pedro é consciente dessa posição particular que tem: é ele quem fala com frequência, em nome dos outros, pedindo explicações ante uma parábola difícil (Mateus 15, 15), ou para perguntar o sentido exato de um projeto (cf. Mateus 18, 21) ou a promessa formal de uma recompensa (Mateus 19, 27). Em particular, é ele quem supera o impacto de certas situações, intervindo em nome de todos. Deste modo, quando Jesus, ferido pela incompreensão da multidão após o discurso sobre o «pão da vida», pergunta: «Também vós quereis ir?», a resposta de Pedro é rápida: «Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna» (Mateus 16, 15-15). Jesus pronuncia então a declaração solene que define, de uma vez por todas, o papel de Pedro na Igreja: «E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. A ti darei as chaves do Reino dos Céus; o que atares na terra será atado nos céus, e o que desatares na terra será desatado nos céus» (Mateus 16, 18-19). As três metáforas às quais recorre Jesus são em si muito claras: Pedro será o cimento de rocha sobre o qual estará o edifício da Igreja; terá as chaves do Reino dos céus para abrir e fechar a quem lhe pareça justo; por último, poderá atar e desatar, ou seja, poderá estabelecer ou proibir o que considere necessário para a vida da Igreja, que é e continuará sendo de Cristo. É sempre a Igreja de Cristo e não de Pedro. Descreve com imagens plásticas o que a reflexão sucessiva qualificará com o termo «primado de jurisdição».
Esta posição preeminente que Jesus quis entregar a Pedro se constata também depois da ressurreição: Jesus encarrega às mulheres que levem o anúncio a Pedro, distinguindo-o entre os demais apóstolos (cf. Marcos 16, 7); acode correndo a ele e a João a Madalena para informar que a pedra foi removida da entrada do sepulcro (cf. João 20, 2), e João lhe cederá o passo quando os dois cheguem ante o túmulo vazio (cf. João 20, 4-6); Pedro será depois, entre os apóstolos, a primeira testemunha da aparição do Ressuscitado (cf. Lucas 24, 34; 1 Coríntios 15, 5). Este papel, sublinhado com decisão (cf. João 20, 3-10), marca a continuidade entre a preeminência no grupo dos apóstolos e a preeminência que continuará tendo na comunidade nascida com os acontecimentos pascais, como testifica o livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 1, 15-26; 2, 14-40; 3, 12-26; 4,8-12; 5,1-11.29; 8, 14-17; 10, etc). Seu comportamento é considerado tão decisivo que é objeto de observações e também de críticas (cf. Atos 11, 1-18; Gálatas 2, 11-14).
No assim chamado Concílio de Jerusalém, Pedro desempenha uma função diretiva (cf. Atos 15 e Gálatas 2, 1-10), e precisamente pelo fato de ser a testemunha da fé autêntica, o próprio Paulo reconhecerá nele um papel de «primeiro» (Cf. 1 Coríntios 15, 5; Gálatas 1, 18; 2,7 seguintes, etc). Também, o fato de que vários dos textos chaves referidos a Pedro possam ser marcados no contexto da Última Ceia, na qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os irmãos (cf. Lucas 22, 31 seguintes), mostra como a Igreja, que nasce do memorial celebrado na Eucaristia, tem no ministério confiado a Pedro um de seus elementos constitutivos.
Este contexto do Primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último desse Primado: para todos os tempos: Pedro tem que ser o custódio da comunhão com Cristo; tem que guiar até a comunhão com Cristo, de forma que a rede não se rompa, mas que sustente a grande comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro consiste em garantir assim a comunhão com Cristo, com a caridade de Cristo, guiando até a realização dessa caridade na vida de todos os dias. Rezemos para que o primado de Pedro, confiado a pobres seres humanos, seja sempre exercido neste sentido original desejado pelo Senhor, e para que o possam reconhecer cada vez mais em seu significado verdadeiro os irmãos que ainda não estão em comunhão conosco.
[Traduzido por Zenit]