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sábado, 22 de outubro de 2011

O que diz a Igreja sobre as imagens?


O Catecismo da Igreja Católica – CIC – nos fala que as imagens representam Cristo. Antigamente não se podia representar um Deus invisível, que não tinha corpo nem aparência, Mas após o verbo se mostrar aos homens pôde-se fazer uma imagem daquilo que foi visto de Deus.
Ainda de acordo com o CIC (1160) as imagens transcrevem a mensagem que a Bíblia transmite pela palavra. Para testemunharmos nossa fé devemos nos utilizar dos meios disponíveis, conservando as tradições escritas ou não-escritas, que vem sendo transmitidas pelos séculos. “Uma delas é a representação pictórica das imagens, que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o verbo de Deus se fez homem...”.
São João Damasceno nos testemunha que “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”.

Percebemos por este testemunho que as imagens têm um poder de sensibilização maior que as palavras. Muitas vezes descrevemos, por meio de uma narrativa alguma coisa ocorrida ou descrevemos uma pessoa, e o interlocutor não consegue visualizar aquilo que falamos. Mas mostremos uma foto e em fração de segundos a mensagem é transmitida. É o que ocorre com as imagens sacras. Alguém pode falar sobre a paixão de Cristo por horas e uma pessoa não assimila a mensagem. Porém, mostre um Cristo pregado na cruz e a emoção é instantânea.
Acrescenta ainda o CIC (1192) que “por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nela representadas”. (destaque em negrito feito pelo autor deste texto)
Observem as palavras destacadas (pelo autor): adoramos (a Deus) e veneramos (anjos, santos e mãe de Deus).
Sobre a adoração diz o CIC (2096): “A adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus e reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso”.
"Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestaras culto" (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6,13)””. Está claro que a adoração deve ser direcionada ao criador do mundo: Deus. Não há nenhuma orientação à adoração de outras divindades ou pessoas.
Quanto à veneração a Igreja diz (CIC 2132): “O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, "a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original”, e "quem venera uma imagem venera a pessoa que nela esta pintada”. A honra prestada as santas imagens é uma "veneração respeitosa", e não uma adoração, que só compete a Deus...”. A orientação é clara, cristalina, só não quer entender quem está a fim de confundir as pessoas e daí tirar algum proveito.
Explicando, de novo, para dirimir quaisquer dúvidas: ajoelhado diante de uma imagem sacra, de São José, por exemplo, estamos honrando aquele que foi o pai do Filho de Deus, rendendo-lhe uma veneração que demonstra nosso amor por um homem que aceitou uma grande missão de Deus. Não estamos a rezar para um objeto feito de gesso, madeira ou qualquer outro material. Estamos dirigindo nossas orações para o “modelo original”, ou seja, para o verdadeiro São José e não para a “estátua”. Isto porque sabemos que nossas súplicas não terminam em S. José, mas que elas chegarão a Deus.
“Na liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado a direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exercito celestial cantamos um hino de gloria ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos com ele na glória”. (CIC 1090)
As pessoas sempre encontraram formas de expressar o seu amor por aqueles que dedicaram a sua vida em servir à humanidade. Os cristãos sempre criaram formas piedosas de se expressar coletivamente, sejam através de procissões, romarias, terços, veneração a relíquias etc. Mas que isto não venha a substituir o principal, que é a Sagrada Eucaristia, mas, sim, que venha a incentivar a participação dos fiéis no mais importante rito cristão, que a tudo supera.
Isto tudo difere de idolatria, que é a divinização de tudo aquilo que não é Deus. “... Existe idolatria quando o homem presta honra e veneração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro etc...” (CIC 2113)
Mas a idolatria não é direcionada apenas a uma pessoa ou a um ídolo, seja ele feito de ouro, prata ou barro. O ídolo pode ser o dinheiro, o poder ou o sexo. Sempre existiu e sempre existirá aquele que deixará o prazer mundano direcionar sua vida. "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro", diz Jesus (Mt 6,24). O cristão não pode ser politeísta, crer em mais de um Deus. Idolatria não é venerar uma imagem sacra, mas, sim, como exemplo, acreditar que o dinheiro compra o amor de Deus, compra um milagre de Deus.
“A vida humana unifica-se na adoração do Único. O mandamento de adorar o único Senhor simplifica o homem e o livra de uma dispersão infinita. A idolatria e uma perversão do sentimento religioso inato do homem. O idólatra é aquele que "refere a qualquer coisa que não seja Deus a sua indestrutível noção de Deus". (CIC 211)
Para encerrar, lembremos o mais famoso caso de idolatria, que é o caso do bezerro de ouro narrado em Êxodo 32, 1-6:
“Vendo que Moisés tardava a descer da montanha, o povo agrupou-se em volta de Aarão e disse-lhe: “Vamos: faze-nos um deus que marche à nossa frente, porque esse Moisés, que nos tirou do Egito, não sabemos o que é feito dele.”
Aarão respondeu-lhes: “Tirai os brincos de ouro que estão nas orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas, e trazei-mos.”
Tiraram todos os brincos de ouro que tinham nas orelhas e trouxeram-nos a Aarão, o qual, tomando-os em suas mãos, pôs o ouro em um molde e fez dele um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: “Eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito.”
Aarão, vendo isso, construiu um altar diante dele e exclamou: “Amanhã haverá uma festa em honra do Senhor”;
No dia seguinte pela manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios pacíficos. O povo assentou-se para comer e beber, e depois levantaram-se para se divertir.”
Neste caso as pessoas não veneraram a imagem, mas o adoraram como um deus, ou seja, era o próprio deus. Não era uma simples imagem, era um ídolo, ao qual atribuíram poderes divinos e a ele ofereceram sacrifícios em um altar. Não tem como comparar ou confundir a passagem do bezerro de ouro com a veneração de uma imagem cristã.  Igreja não orienta seus fiéis a adorar imagens nem a estas imagens atribui poderes divinos ou poderes de cura. A destruição de uma imagem sacra não elimina o que ela representa. Se uma pessoa destrói uma imagem da Virgem Santíssima, a Virgem Santíssima continua sendo o que ela é. Mas, quebrando, destruindo um ídolo, como o caso do bezerro de ouro, a sua existência acabou, ele deixou de ser o que é. Se você rasgar uma foto sua você deixa de existir? Não, porque é apenas uma imagem. Entendeu?