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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Ano Litúrgico

O ano litúrgico é a celebração da vida de Jesus Cristo durante doze meses, contendo datas celebrativas dos acontecimentos da História da Salvação. No Ano Litúrgico, nossa caminhada de fé é marcada pelos momentos fortes da vida do Senhor, como seu nascimento, a morte, ressurreição, ascensão e o envio do Espírito Santo.
A expressão "Ano Litúrgico" começou a ser usada no século XIX, quando surgiu o Movimento Litúrgico. Esse Movimento para a renovação da Liturgia atingiu seu ápice no século passado, no Concílio Ecumênico Vaticano II. Seu primeiro grande fruto foi a elaboração da constituição Sacrosanctum Concilium, sobre Liturgia. Antes de se chamar “Ano Litúrgico”, recebera outros nomes como, por exemplo, “Ano da Igreja” e “Ano Cristão”. 
A Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração destinados a nutrir a oração contínua. Alguns são cotidianos: a oração da manhã e da tarde, antes e depois das refeições, a Liturgia das Horas. O domingo, centrado na Eucaristia, é santificado principalmente pela oração. O ciclo do ano litúrgico e suas grandes festas são os ritmos fundamentais da vida de oração dos cristãos. (CIC 2698)
O Ano Litúrgico não coincide com o ano civil; ele começa com o Primeiro Domingo do Advento e termina na última semana do Tempo Comum, quando se celebra a solenidade de Cristo Rei. Em outras palavras, ele começa e termina quatro semanas antes do Natal, cumprindo sempre três anos (ou ciclos): A, B,e C. No Ano A, predomina a leitura do Evangelho de São Mateus; no Ano B, predomina a leitura do Evangelho de São Marcos e no Ano C, predomina a leitura do Evangelho de São Lucas.

HISTÓRIA
Antigamente todo domingo era dia de Páscoa, oportunidade em que os cristãos se reuniam celebrando a ressurreição de Jesus Cristo. Eles obedeciam à ordem dada pelo próprio Cristo: Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. (Lc 22, 19)
Mas apenas os domingos não eram suficientes para recordar e celebrar toda a vida de Cristo. Eles “espalharam” as festividades durante todo o ano, surgindo, então, o ano litúrgico. Assim durante todo o ano são lembrados os principais acontecimentos e ensinamentos da vida de Jesus Cristo.
O povo de Deus, desde a lei mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para comemorar as ações admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e ensinar as novas gerações a conformar sua conduta com elas. Na era da Igreja, situada entre a páscoa de Cristo, já realizada uma vez por todas, e a consumação dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em dias fixos está toda impregnada da novidade do mistério de Cristo. (CIC, 1164)
A seguir apresento uma rápida viagem no tempo, mostrando como se formou o ano litúrgico.
No século I - a Páscoa passa a ser celebrada anualmente.
No século IV - o Jejum que era de dois dias passa a ser de uma semana e depois de 40 dias, tempo de preparação dos catecúmenos para o batismo e de reconciliação e penitência. Daí resultou a imposição das cinzas que dá início à quaresma. Iniciou-se a comemoração da ascensão e Pentecostes, formando o ciclo pascal.
→ Foi neste período que se definiu a data do Natal no ocidente. A data de 25 de dezembro foi emprestada de uma festa pagã, a festa do sol. Os cristãos viam em Jesus o verdadeiro sol da justiça, daí a escolha da data.
Com o tempo se introduzem as festas dogmáticas:
Ano 1000 – Santíssima Trindade
Ano 1246 – Corpus Christi
Ano 1756 – Sagrado Coração de Jesus
Ano 1925 – Cristo Rei
Desde o início os cristãos veneram os mártires que se tornaram testemunhas de Cristo, dando suas vidas pela fé. A partir do século II São Policarpo de Esmirna já era venerado na liturgia. Em seguida vieram os apóstolos e aqueles que eram perseguidos devido a sua fé.
Quando, no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, "proclama o mistério pascal" naqueles e naquelas "que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele, e propõe seu exemplo aos fieis para que atraia todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus". (CIC, 1193)
Maria foi introduzida na liturgia a partir do século V, conforme abaixo:
- Natividade de Nossa Senhora (século V)
- Assunção de Maria (século VII)
- visitação de Nossa Senhora (século XIV)
- Solenidade de Imaculada Conceição (século XV), entre outras.
Mas a Igreja sempre lembra que o centro e a fonte de todo o ano litúrgico é o mistério pascal de Jesus Cristo.

ESTRUTURA DO ANO LITÚRGICO
·         CICLO DE NATAL

Advento: são as quatro semanas que antecedem o dia de natal, é um tempo em que a Igreja espera pelo nascimento de Cristo, o libertador. É tempo de conversão, tempo de deixar Jesus nascer dentro do coração. Com o Advento inicia-se o ano litúrgico, sendo composto de 4 semanas, iniciando 4 domingos antes do Natal e encerrando no  dia 24 de dezembro, à tarde. Não é um tempo festivo, mas de alegria moderada e preparação para receber Jesus.
Este tempo é dividido em duas partes: do início até o dia 16 de dezembro a Igreja se volta para a segunda vinda do Salvador, que vai acontecer no fim dos tempos. A partir do dia 17 até o final a Igreja se volta para a primeira vinda do Salvador, que se encarnou no ventre de Maria e nasceu na pobre gruta de Belém.
O Símbolo mais comum desse Tempo é a Coroa do Advento, com quatro velas a serem acesas a cada Domingo.  A recitação do Hino de Louvor ("Glória a Deus nas alturas") é omitida. A cor litúrgica no primeiro, segundo e quarto domingo do Advento é o roxo ou o lilás. No terceiro domingo a cor é rosa, para simbolizar a alegria. Nos demais domingos, quando se celebra o tempo do Natal, a cor usada na liturgia é o branco.
O terceiro Domingo é chamado Domingo "Gaudete", ou seja, Domingo da alegria. Essa alegria é por causa do Natal que se aproxima. Nesse dia, pode-se usar cor-de-rosa, por ser uma cor mais suave.
Personagens bíblicos mais lembrados nesse tempo do Advento: Isaías, João Batista e Maria.

Natal: Após as quatro semanas do Advento celebramos o mistério da encarnação e do nascimento humano do Verbo Divino no Natal. O Verbo se faz carne e vem habitar entre nós. É o dia 25 de dezembro, dia do nascimento de Jesus Cristo. Comemora-se com bastante alegria, pois o Filho de Deus se fez homem.
Toda a semana seguinte ao dia 25 é chamada Oitava de Páscoa, dias tão solenes quanto o dia de Natal. No primeiro domingo posterior ao dia de Natal é celebrada a Festa da Sagrada Família, mas, se o Natal ocorrer em um domingo a Festa da Sagrada Família se celebra no dia 30 de dezembro. No dia 1º de Janeiro, celebra-se a Solenidade da Santa Maria, Mãe de Deus.
O Natal se estende até a festa do Batismo de Jesus, no domingo seguinte à Epifania, que marca o início da missão de Jesus que culminará com a Páscoa. Se o domingo seguinte à Epifania ocorrer no Domingo 7 ou 8 janeiro, a Festa do Batismo do Senhor  é celebrada na segunda-feira seguinte.
A cor utilizada neste período é a Branca. Símbolos deste tempo: presépio e luzes.

Epifania: Celebra-se no segundo domingo seguinte ao natal, entre os dias 2 e 8 de janeiro. Solenidade que tem como objetivo lembrar a todos os povos que Jesus é Filho de Deus. Jesus se manifesta às nações como o Filho de Deus.
A Apresentação do Senhor ocorre no dia 02 de fevereiro (festa de Nossa Senhora das Candeias).

·         CICLO PASCAL

Quaresma: a Páscoa tem também um tempo de preparação, que é a Quaresma. Ela tem início na quarta-feira de cinzas e encerra na quarta-feira da semana santa. Há quem afirme que a Quaresma dura 47 dias, da quarta-feira de cinzas até o domingo da Páscoa. Isto ocorre porque estas pessoas não contam os domingos, dia já consagrado à oração.
Este Tempo é apropriado para penitência e reflexão e a prática do jejum, da esmola, abstinência e da oração. Para a prática da abstinência a pessoa deve se privar de algo que goste muito, conforme a tradição católica. Com o dinheiro economizado com esta abstinência faz-se caridade.
Este período de quarenta dias lembra a caminhada do povo de Deus no deserto durante quarenta anos. O ápice deste ciclo é a semana santa. Durante a Quaresma não se canta aleluias e evita-se ornamentar as igrejas com flores.
Neste período os catecúmenos se iniciam na vida da Igreja. Os batizados renovam os compromissos do Batismo pela penitência
Ao final da Quaresma, inicia-se a Semana Santa, que vai desde o Domingo de Ramos, onde celebramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, anunciando a proximidade da Páscoa até o Domingo de Páscoa.
A Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto. (CIC, 540)
Os tempos e os dias de penitencia ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras de caridade e missionárias). (CIC, 1438)
A Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) propõe a cada ano durante a Quaresma um período de vivência concreta de gestos de fraternidade em torno de um tema comum. É a chamada Campanha da Fraternidade, maior campanha de solidariedade do mundo cristão. Assim a quaresma se reveste de um significado atual dentro de um convite à reflexão e a prática do amor fraterno.
Semelhante ao terceiro Domingo do Advento, o quarto domingo da Quaresma também é caracterizado pela alegria da Páscoa que se aproxima e recebe o nome de Laetare, ou seja, Domingo da Alegria. Nesse dia, também pode ser usado paramento cor-de-rosa, que é uma cor mais suave. Excetuando o Domingo Laetare, não se ornamenta o altar com flores e o toque de instrumentos musicais é só para sustentar o canto. Durante todo o Tempo, omite-se o Aleluia, bem como também o Hino de Louvor.
O sexto Domingo da Quaresma é Domingo de Ramos na Paixão do Senhor. Nesse dia, utiliza-se a cor Vermelha. Também nesse dia, inicia-se a Semana Santa.
A cor deste período é a Roxa.

Páscoa: A palavra Páscoa significa passagem (passagem do pecado e da morte para a graça e a vida). Inicia-se na quinta-feira santa, quando se celebra a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. Pela manhã ocorre a missa do crisma, reunindo todos os padres em torno do bispo. Na Quinta-feira, à tarde celebra-se a Missa da Ceia do Senhor e Lava-pés. A cor do paramento é Branca. Trata-se de uma Missa solene e deve-se ornamentar o altar com flores. Ao final da Celebração é feito o translado do Santíssimo Sacramento.
A sexta-feira é o único dia do ano em que não há missa, ocorrendo apenas uma Ação Litúrgica da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.  A cor utilizada é a vermelha.
No sábado ocorre a Vigília Pascal, onde se celebra a Ressurreição do Senhor. De quinta a sábado celebramos este Tríduo Pascal (Quinta-feira Santa; Sexta-feira Santa e Sábado Santo) que antecede o ponto máximo da Páscoa, que é o Domingo da Ressurreição. A Páscoa se estende por cinquenta dias até o dia da Festa de Pentecostes, que assinala o nascimento da Igreja iluminada pela presença vivificadora do Espírito Santo. Como está descrito no Catecismo da Igreja Católica (CIC) “A Páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a festa das festas”. É “o grande domingo”, como disse Santo Atanásio.
No sétimo Domingo da Páscoa, celebra-se a Solenidade da Ascensão do Senhor. A cor litúrgica da Páscoa é a Branca.

Pentecostes: celebra-se 50 dias após a Páscoa. O Jesus que ressuscitou volta ao Pai e nos envia o Paráclito.
No dia de Pentecostes (no fim das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito. (CIC, 731)
"Terminada a obra que o Pai havia confiado ao Filho para realizar na terra, foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes para santificar a Igreja permanentemente." Foi então que "a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a difusão do Evangelho com a pregação". Por ser "convocação" de todos os homens para a salvação, a Igreja e, por sua própria natureza missionária enviada por Cristo a todos os povos para fazer deles discípulos. (CIC, 767)
No Pentecostes a cor usada é a vermelha. 

·         TEMPO COMUM
Após celebrarmos o Batismo do Senhor iniciamos o chamado Tempo Comum que se estende até a terça-feira anterior à Quarta-Feira de Cinzas. É um tempo destinado ao acolhimento da Boa Nova do Reino de Deus anunciado por Jesus. Na segunda-feira após o Domingo de Pentecostes a liturgia da Igreja prossegue o tempo comum que se estende até o sábado anterior ao Primeiro Domingo do Advento. São 34 semanas de um tempo comum, porém importante por nos mostrar que Jesus está presente em tudo todo o tempo, até nas coisas mais banais.
A cor litúrgica usada no Tempo comum é o verde.
"O Tempo comum não é tempo vazio. É tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino." (CNBB - Documento 43, 132).
Primeira Parte do Tempo Comum
Inicia-se no dia após a Festa do Batismo do Senhor e encerra-se na terça-feira de carnaval. Na quarta-feira de cinzas se inicia a Quaresma. A cor deste tempo é o verde.
Segunda parte do Tempo Comum
O Tempo Comum que havia sido interrompido pela Quaresma, reinicia na Segunda-feira após a solenidade de Pentecostes. No Domingo seguinte, celebra-se a Solenidade da Santíssima Trindade. Nesse dia, a cor é Branca.
Na Quinta-feira após o Domingo da Santíssima Trindade, celebra-se a Solenidade do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (Corpus Christi).
A duração do Tempo Comum, contanto desde a primeira parte, é de 34 semanas. Na 34ª semana, mais especificamente na véspera do Primeiro Domingo do Tempo do Advento, termina o Tempo Comum e, consequentemente termina aquele Ano Litúrgico, devendo, portanto, iniciar o outro ano como primeiro Domingo do Tempo do Advento.
O Tempo Comum também é chamado "Tempo Durante o Ano".



Fontes:
pastoralis.com.br
Curso de liturgia. Pe Joaozinho, scj. Ed Loyola.
Catecismo da Igreja Católica (CIC)
jesuitas.org.br
paroquiamatrizsaobenedito.com.br
Jesusbompastor.org.br
catequisar.com.br
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