Os protestantes que se dizem voltar ao cristianismo primitivo, que se dizem conhecedores da Palavra de Deus e seus fiéis seguidores, renegam duas parcelas importantíssimas da Palavra de Deus: A Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério.
O escopo de nosso artigo está na
Sagrada Tradição, em outra oportunidade trataremos do Sagrado Magistério.
A Ordem Apostólica
Os adeptos da "Sola
Scriptura" (Somente as Escrituras), na verdade são adeptos da "Sola
alguns versículos da Scriptura". Negam verdades bem explícitas da Sagrada
Escritura como a real presença do Senhor no pão e no vinho da Eucaristia (cf.
Jo 6,51-56), negam também que a autoridade apostólica não se encerrou com a
geração dos apóstolos, mas se perpetuou em seus legítimos sucessores (cf. At
1,15-26; 1Tm 5,1.19-20; Tt 1,5; 2,9-10.15), negam o preço que o Senhor e São
Paulo possuíam pelos celibatários (cf. Mt 19,12; 1Cor 7,1.26-27) e entre outras
coisas. Mas se tratando da Sagrada Tradição, fecham seus olhos para a seguinte
instrução de São Paulo:
"Assim, ficai firmes e
conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavra, seja por
carta nossa" (2Tes 2,15).
Verter
por escrito a Revelação era uma preocupação secundária
Vejam que São Paulo nos manda guardar toda doutrina apostólica, seja ela oral ou escrita. A Sagrada Tradição é maior que a Escritura, pois foi ela que deu origem à Escritura. A ordem do Senhor foi: "Ide, e pregai o Evangelho a toda criatura" (cf. Mt 28,19-20) e não "Ide e imprimi as Escrituras".
Vejam que São Paulo nos manda guardar toda doutrina apostólica, seja ela oral ou escrita. A Sagrada Tradição é maior que a Escritura, pois foi ela que deu origem à Escritura. A ordem do Senhor foi: "Ide, e pregai o Evangelho a toda criatura" (cf. Mt 28,19-20) e não "Ide e imprimi as Escrituras".
A preocupação da Igreja era anunciar
o Evangelho. E fizeram isto de viva voz. Somente em circunstância especiais é
que os apóstolos se viram obrigados a colocar algo por escrito. Mas de forma
alguma se preocuparam em colocar tudo por escrito (cf. Jo 21,25; 1Cor 11,12;
2Jo 1,12; 3; 3Jo 1,13-14).
Veja o testemunho de Eusébio, Bispo
de Cesareia e historiador da Igreja nos tempos primitivos:
"[Os Apóstolos] Anunciaram o
reino dos céus a todo orbe habitado, sem a menor preocupação de escrever
livros.
Assim procediam porque lhes cabia
prestar um serviço maior e sobre-humano. Até Paulo, o mais potente de todos na
preparação dos discursos, o mais dotado relativamente aos conceitos, só
transmitiu por escrito breves cartas, apesar de ter realidades inúmeras e
inefáveis a contar [...] Outros seguidores de nosso Salvador, os primeiros
apóstolos, os setenta discípulos e mil outros mais não eram inexperientes das
mesmas realidades. Entretanto, dentre eles todos, somente Mateus e João
deixaram memória dos entretenimentos do Salvador. E a Tradição refere que estes
escreveram forçados pela necessidade. [...] Quanto a João [o Apóstolo], diz-se
que sempre utilizava o anúncio oral. Por fim, também ele pôs-se a escrever pelo
seguinte motivo. Quando os três evangelhos precedentes já se haviam propagado
entre todos os fiéis e chegaram até ele, recebeu-os, atestando sua veracidade.
Somente careciam da história das primeiras ações de Cristo e do anúncio
primordial da palavra. E trata-se de verdadeiro motivo." (História Eclesiástica
Livro III, 24,3-7. Eusébio de Cesaréia, + ou - 317 d.C)
Pois o Cristianismo não é baseado
num manual de instruções, mas sim no Magistério Vivo da Igreja. E é disto que
as Sagradas Escrituras (cf. 2Cor 3,6) e os antigos deram testemunho.
Motivos
que os protestantes alegam para abandonar a Sagrada Tradição
Os protestantes normalmente
apresentam 3 motivos para justificar seu abandono à Sagrada Tradição:
1) O que está na Bíblia é suficiente
Normalmente citam 2Tm 3,16. Mas o
referido versículo não diz que a Escritura é suficiente, diz apenas que é útil,
para ensinar, e redargüir o homem para toda boa obra. Isto é claro pois na
Sagrada Escritura só existe Verdade, mas nem toda Verdade está na Sagrada
Escritura.
2) Que Jesus condenou o uso da
Tradição
Alguns protestantes alegam que as
palavras do Senhor registradas em Mc 7,9 justificam o abandono à Sagrada
Tradição. Se isto fosse verdade São Paulo não nos deixaria a ordem que também
guardar o ensino oral dos apóstolos. O problema que é os Fariseus ensinavam
informalmente sua própria tradição em vez da Tradição que foi comunicada desde
Abraão até os Profetas. É isso mesmo que o leitor leu, ensinavam informalmente
sua doutrina, pois ensino formal, isto é, o ministério da Palavra era feito nas
Sinagogas aos Sábados. Se os Fariseus ensinassem sua doutrina formalmente, o
Senhor não teria dito ao povo que os ouvisse quando estes estivessem ensinando
da Cadeira de Moisés, isto é, ensinando formalmente como legítimos sucessores
de Moisés (cf. Mt 23,2).
É por isto que todo católico deve
observar apenas o que a Igreja ensina oficialmente. A opinião do Padre Zezinho,
do Frei Beto, do Padre Marcelo, ou até mesmo do Santo Padre João Paulo segundo,
de forma alguma é norma de fé e prática para católico.
3) A Tradição pode ser muito bem
deturpada com o tempo como a brincadeira do telefone-sem-fio
Outro motivo apresentado pelos
protestantes para negarem a Tradição Apostólica, é de que o ensino oral pode
ser deturpado com o tempo. Se São Paulo não confiasse na fidelidade da Igreja
em guardar toda doutrina apostólica, seja oral ou escrita, não teria dito a
Timóteo: "E o que de mim, através de muitas testemunhas ouviste, confia-o
a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros." (2 Tm
2,2). São Paulo disse isto pq sabia que a Igreja é a Coluna e o Fundamento da
Verdade (cf. 1Tm 3,15) e que ela guardaria fielmente a doutrina revelada (cf.
Mt 16,18-19)
Fora este fato, não só protestantes,
mas o que muitos católicos também não sabem, é que a Sagrada Tradição não foi
conservada pela Igreja apenas oralmente, mas também foi sendo vertida por
escrito pelas gerações que sucederam os santos apóstolos.
Mesmo durante a era apostólica,
muitos já queriam se separar da Igreja, pregando um Evangelho diferente. Mas
todas estas heresias caíram por terra, por causa do testemunho vivo dos
Apóstolos. Coma morte dos Apóstolos, seus legítimos sucessores se preocuparam
em escrever aquilo que os Apóstolos não deixaram por Escrito, para combater
heresias nascentes, e para deixar para a posteridade a memória cristã.
Vejam
os testemunhos primitivos:
"Em primeiro lugar [Inácio de
Antioquia], acautelava-se a conservar firmemente a tradição dos apóstolos que,
por segurança, julgou necessário fixar ainda por escrito. Estava já prestes a
ser martirizado." (História Eclesiástica Livro III, 36,4. Eusébio de Cesareia,
+ ou - 317 d.C).
"Em teu favor, não hesitarei em
aditar às minhas explanações que aprendi outrora dos presbíteros e cuja
lembrança guardei fielmente, a fim de corroborar a manifestação da
verdade." (Pápias Bispo de Hierápolis, - ou - 120 d.C).
"Pápias, de quem nos ocupamos
agora, reconhece ter recebido as palavras dos apóstolos por meio dos que com
eles conviveram; declara, além disso, ter sido ele mesmo ouvinte de Aristion e
do presbítero João. De fato, cita-os com frequência nominalmente em seus
escritos, referindo as palavras que transmitiram. Não foi ocioso ter dito tais
coisas. É justo acrescentar às palavras supramencionadas de Pápias umas
narrações ainda de fatos extraordinários e outras que chegaram até ele por meio
da tradição." (História Eclesiástica Livro III, 39,7-8. Eusébio de Cesareia,
+ ou - 317 d.C).
"Floresciam nesta época na
Igreja [tempo do Imperador Vero, por volta de 140 d.C], Hegesipo, já conhecido
pelas narrações precedentes; Dionísio, bispo de Corinto; Pintos, bispo de
Creta. Além disso, Filipe, Apolinário, Melitão, Musano e Modesto, e sobretudo
Ireneu. Através de todos eles, chegou até nós por escrito a ortodoxia da
tradição apostólica, a verdadeira fé." (História Eclesiástica Livro IV,
21. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
"Ora, sob [o episcopado de]
Clemente, grave divergência surgiu entre os irmãos de Corinto. A Igreja de Roma
enviou aos coríntios importante carta, exortando-os à paz e procurando
reavivar-lhes a fé, assim como a tradição que, há pouco tempo, ela havia
recebido dos apóstolos." (História Eclesiástica Livro IV, 6,3. Eusébio de Cesareia,
+ ou - 317 d.C).
"Esses mestres [Policarpo,
Ireneu, Pápias, Justino, Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, entre outros
pois a lista é grande], que guardaram a verdadeira tradição da feliz doutrina
recebida, como que transmitida de pai a filho, oriunda imediatamente dos santos
Apóstolos Pedro e Tiago, João e Paulo (poucos são, contudo os filhos
semelhantes aos pais), chegaram até nossos dias, por dom de Deus, a fim de
lançar as sementes de seus antepassados e dos apóstolos em nossos
corações" (História Eclesiástica Livro V, 11,5. Eusébio de Cesareia, + ou
- 317 d.C).
"Impossível enumerar
nominalmente todos os que então, desde a primeira sucessão dos Apóstolos,
tornaram-se pastores ou evangelistas nas Igrejas pelo mundo. Nominalmente
confiamos a um escrito apenas a lembrança daqueles cujas obras ainda agora
representam a tradição da doutrina apostólica" (História Eclesiástica
Livro III, 37,4. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
Onde
a verdadeira Tradição dos Apóstolos pode ser encontrada
Eusébio não só é testemunha que os
sucessores dos apóstolos deixaram por escrito a legítima Tradição Apostólica,
como dá testemunho que a genuína Tradição Apostólica só pode ser encontrada na
Igreja Apostólica, isto é, na Igreja que possui sua origem na legítima sucessão
dos bispos.
Para combater o erro de ontem e de
hoje, os antigos sempre apontavam para as Igrejas Apostólicas, isto é, para
aquelas que tinham bispos legitimamente instituídos pelos Apóstolos e seus
sucessores, pois segundo eles eram elas que guardavam a legítima Tradição
Cristã. Para eles somente na Igreja Apostólica é se pode encontrar a Verdade.
Da mesma forma como a pregação
paulina foi confiada a Timóteo (cf 2 Tm 1,13-14) e este confiou a seus
sucessores, da mesma forma Tradição Apostólica foi conservada pela Igreja,
através da legítima sucessão dos bispos. Veja os testemunhos primitivos:
"Mas a Igreja de Éfeso, fundada
por Paulo e onde João permaneceu até o tempo de Trajano, é também testemunha
genuína da tradição dos apóstolos" (Contra as Heresias, Santo Ireneu Bispo
de Lião, + ou - 202 d.C).
"Nesta ocasião [tempo do
Imperador Vero. Meados do segundo século e início do terceiro], muitos homens
da Igreja lutaram em prol da verdade com eloquência e defenderam as proposições
apostólicas e eclesiásticas. Alguns até, com seus escritos, deixaram aos
pósteros uma profilaxia contra as heresias que acabamos de citar" (História
Eclesiástica Livro IV, 7,5. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
Depois Eusébio nos remete a uma
imensa lista de autores e seus respectivos livros, pelos quais deixaram para a
memória cristã a autêntica pregação Apostólica.
"A Clemente [3º sucessor de São
Pedro na Cáthedra de Roma] sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre, depois, em
sexto lugar desde os apóstolos, foi estabelecido Xisto; logo, Telésforo, que
prestou glorioso testemunho; em seguida, Higino; após este, Pio, e depois,
Aniceto. Tendo sido Sotero o sucessor de Aniceto, agora detém o múnus
espiscopal Eleutério, que ocupa o duodécimo lugar na sucessão apostólica. Em
idêntica ordem e idêntico ensinamento na Igreja, a tradição proveniente dos
apóstolos e o anúncio da verdade chegaram até nós." (História Eclesiástica
Livro V, 6,4-5. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
"E quando, por nossa vez, os
levamos [os hereges] à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas
várias igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então se opõe à Tradição,
dizendo que, sendo eles mais sábios do que os presbíteros, não somente, mas até
dos apóstolos, foram os únicos capazes de encontrar a pura verdade."
(Contra as Heresias, III,2,1, Santo Ireneu Bispo de Lião, + ou - 202 d.C)
"Portanto, a tradição dos
apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda
igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os
bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores
até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que
essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto que seria coisa bastante
longa elencar numa obrar como esta, as sucessões de todas as igrejas,
limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada
e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e,
indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens,
que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de
alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, que por cegueira ou por
doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito,
deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais
excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela
sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos
apóstolos." (Contra as Heresias, III,3,1-2, Santo Ireneu Bispo de Lião, +
ou - 202 d.C)
Acho também interessante citar a
observância de Eusébio quanto à degeneração doutrinária das seitas, assim como
acontece no Protestantismo:
"Extinguiram-se, pois
rapidamente as maquinações dos inimigos, confundidas pela atuação da Verdade.
As heresias, uma após outras, apresentavam inovações; as mais antigas
continuamente desvaneciam e desvirtuavam-se, de diferentes modos, para dar lugar
a ideias diversas e variadas. Ao invés, ia aumentando e crescendo o brilho da
única verdadeira Igreja católica, sempre com a mesma identidade, e irradiando
sobre gregos e bárbaros o que há de respeitável, puro, livre, sábio, casto em
sua divina conduta e filosofia. [...] Além do mais, na época de que tratamos, a
verdade podia apresentar numerosos defensores, em luta contra as heresias ateias,
não somente através de refutações orais, mas também por meio de demonstrações
escritas." (História Eclesiástica Livro IV, 7,13.15. Eusébio de Cesareia,
+ ou - 317 d.C).
Conclusão
Pois é esta mesma memória cristã que
nós Católicos Romanos, Gregos, Russos, Orientais, Coptas, Nestorianos e
Maronitas, guardamos. E é por causa dela é que apesar de separados por um cisma
de 1000 anos (com exceção dos Católicos Maronitas que até hoje estão em plena
comunhão com a Igreja Católica Romana), possuímos praticamente a mesma fé e
doutrina. Divergimos mais em questões disciplinares. E é esta mesma memória que
um dia colocou por terra as heresias do passado, é que eu nós que congregamos
nas legítimas Igrejas Apostólicas (aquelas que guardam a legítima sucessão dos
bispos), trazemos à luz para combater as heresias de hoje também.
E como se pode ver o Protestantismo
ao se ao abandonar a Tradição Apostólica, berço das Sagradas Escrituras, comete
o mesmo erro as primeiras seitas, e identificamos nele o mesmo diagnóstico
delas. Acabam pregando sua própria tradição em vez da Tradição Divina, erro que
Jesus condenou dos Fariseus.
Com qual o quê você vai ficar? Com a
Tradição dos Apóstolos ou com a tradição de Lutero, Calvino, John Knox, Ellen
White, Tasse Russel, Edir Macedo, David Miranda, etc?
Autor: Alessandro Lima *.
* O autor é arquiteto de software, professor, escritor,
articulista e fundador do Apostolado Veritatis Splendor.