Páginas

domingo, 27 de março de 2011

Papa lança documento sobre Palavra de Deus na vida da Igreja

Por: Leonardo Meira

A Palavra de Deus é o tema central do mais recente documento escrito por Bento XVI, a Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini.
O texto recolhe as 55 reflexões e propostas da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que aconteceu entre 5 e 26 de outubro de 2008 com o tema "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja".
"Desejo assim indicar algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra divina, fonte de constante renovação, com a esperança de que a mesma se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial", indica o Papa na introdução do documento.

A divulgação aconteceu durante uma coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé na manhã desta quinta-feira, 11, às 12h (em Roma – 9h no horário de Brasília).
Participaram da coletiva de imprensa de apresentação do texto o prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet; o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura,Dom Gianfranco Ravasi; o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, Dom Nikola Eterović; e o sub-secretário do Sínodo dos Bispos, Dom Fortunato Frezza.
"Isso evidencia mais uma vez a prioridade da Palavra de Deus no seu Pontificado. [...] Poderia se concluir que o Santo Padre Bento XVI pode ser definido como o Papa da Palavra de Deus", ressalta Dom Eterović.
Estrutura

De acordo com o secretário-geral do Sínodo, a Exortação possui múltiplos objetivos:

1 - Comunicar os resultados da Assembleia sinodal; 2 – Redescobrir a Palavra de Deus, fonte de constante renovação eclesial; 3 – Promover a animação bíblica da pastoral; 4 – Sermos testemunhas da Palavra; 5 – Iniciar uma nova evangelização; 6 – Favorecer o diálogo ecumênico; 7 - Amar a Palavra de Deus.

Dom Eterović explica que a Verbum Domini é dividida em três partes: a primeira, Verbum Dei – dividida em três capítulos, sublinha o papel fundamental de Deus Pai, fonte e origem da Palavra (cf. VD, 20-21), bem como a dimensão trinitária da revelação; a segunda, Verbum in Ecclesia – dividida em três capítulos, coloca em realce que, pela Divina Providência, a Igreja é a casa da Palavra de Deus que acolhe o Verbo feito carne e que fez morada entre nós (cf. Jo 1, 14); e a terceira, Verbum mundo – dividida em quatro capítulos, salienta o dever dos cristãos de anunciar a Palavra de Deus no mundo em que vivem e trabalham.
O documento começa com uma Introdução, que fornece úteis indicações preliminares, entre as quais o objetivo da Exortação, e encerra-se com a Conclusão, em que são sintetizadas as ideias mais importantes. O texto já está disponível nas línguas latina, italiana, francesa, inglesa, alemã, espanhola, portuguesa e polonesa.

Maria, hermenêutica e Liturgia
De acordo com o Cardeal Ouellet, a Exortação "desenvolve uma visão dinâmica e dialógica da Revelação. [...] A revelação cristã é essencialmente um chamado ao diálogo, uma Palavra criadora de evento e de encontro, do qual a Igreja faz experiência desde as suas origens".
O prefeito da Congregação para os Bispos acrescenta que Maria permanece o insuperável modelo do relacionamento fecundo entre Igreja e Palavra de Deus, conforme indicado pelo Santo Padre no número 28 da Verbum Domini:

"A referência à Mãe de Deus mostra-nos como o agir de Deus no mundo envolve sempre a nossa liberdade, porque, na fé, a Palavra divina transforma-nos. Também a nossa ação apostólica e pastoral não poderá jamais ser eficaz se não aprendermos de Maria a deixar-nos plasmar pela ação de Deus em nós. [...] Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida", escreve Bento XVI.

Ouellet lembra que o Papa defende que é absolutamente necessário rezar com as Sagradas Escrituras para encontrar-se pessoalmente com Cristo. "Daí os numerosos desenvolvimentos da Verbum Domini sobre a Santa Liturgia, sobre a leitura orante e assídua dos textos sagrados, sobre a escuta e o silêncio, sobre a partilha da fé frente aos textos bíblicos, de modo particular na liturgia dominical", afirma.

A Exortação também assinala que a hermenêutica bíblica – chaves de interpretação da Escritura – precisa estar sempre a serviço da fé da Igreja, pois a interpretação da Bíblia flui da vida e do crescimento dessa. Ao tema, são dedicadas cerca de 40 páginas.
Já o sub-secretário do Sínodo dos Bispos, Dom Fortunato Frezza, falou sobre a centralidade física e programática do tema Liturgia no documento papal, pois ocupa as páginas do meio do volume.

"Liturgia e Palavra de Deus compenetram-se em estrita reciprocidade: a Palavra de Deus diviniza a ação litúrgica, a Liturgia é lugar privilegiado para a compreensão da Palavra de Deus, compreensão que se qualifica segundo o dinamismo paulino do conhecer para ser conhecido (cf. 1 Cor 13, 12) e do conhecer para operar na vida segundo o espírito (cf. Fil 3, 8; Ef 3, 16-20).

Diálogo entre cristãos e muçulmanos

No documento, Bento XVI expressou o desejo de um diálogo sincero e respeitoso entre os cristãos e muçulmanos. E recordou que o Sínodo para o Oriente Médio pediu às Conferências Episcopais, que favoreçam "encontros para um conhecimento recíproco entre cristãos e muçulmanos" e assim, promovam os valores de que a sociedade precisa para uma convivência pacífica e positiva. 

O Papa reafirmou ainda o respeito da Igreja pelas antigas religiões e tradições espirituais dos vários continentes. "[Elas] contém valores que podem favorecer imensamente a compreensão entre as pessoas e os povos". Todavia, salientou Bento XVI, "o diálogo não seria fecundo, se não incluísse também um verdadeiro respeito por toda a pessoa para que possa aderir livremente à sua própria religião". 

"Tal respeito e diálogo favorecem a paz e a harmonia entre os povos", concluiu Bento XVI. 

Fonte: Canção Nova