Já nos primeiros séculos a Igreja Católica foi duramente perseguida, a começar pelo imperador Nero, nos anos 60 até o ano de 313, quando o Imperador Constantino liberou o culto a Deus. Houve muitos mártires por conta dessa perseguição. Qual o número dos mártires? É impossível precisá-lo. Foram muitos, antes e depois de Constantino, para que a palavra de Cristo fosse salva ou não fosse dita em vão.
Tertuliano, um dos pais da Igreja, dizia que o sangue dos mártires era o adubo para o crescimento da igreja.
E o que quer dizer a palavra mártir? Vejamos o que diz o dicionário:
Mártir - s.m. e s.f. Aquele que preferiu morrer a renunciar à fé, à sua crença.
Aquele que sofre muito. Comum dos mártires, ofício religioso que se reza por todos os mártires que não têm ofício próprio.
Pergunta: Por que os mártires da Igreja Católica vão resignadamente para a morte? Para se caracterizar o martírio, é necessário não manifestar resistência física diante do algoz? E se manifestar?
Responde o Cônego José Luiz Villac:
O vocábulo “martírio” vem do grego, através do latim “martyrium”, que significa TESTEMUNHO. Nos Tratados de Teologia a Igreja assim define o “Martírio”: é a tolerância, ou seja, a aceitação voluntária e sem resistência da morte corporal — e de todos os tormentos que a acompanharem — infligida por ódio à Fé ou à virtude cristã. É o Testemunho perfeitíssimo da Fé. É o Martírio no sentido estrito do termo. São portanto indispensáveis — para que haja Martírio no sentido estrito — os três elementos acima sublinhados, a saber: 1) aceitação voluntária; 2) da morte corporal; 3) perpetrada por ódio à Fé.
Houve, no entanto, nos primórdios do Cristianismo, casos em que, embora não se verificando os três requisitos, a Igreja considerou -- e até nossos dias celebra -- os seus protagonistas como Mártires. Servem de exemplo os Santos Inocentes, chacinados por Herodes (festa no dia 28 de dezembro); São João Evangelista, que saiu ileso da caldeira de azeite fervente (festa no dia 6 de maio); ou as Santas Apollonia e Pelágia que, para a guarda da virtude, buscaram a própria morte (festa no dia 9 de fevereiro). Estes são Mártires e venerados como tais, no sentido lato da palavra (cfr. Santo Tomás, Bento XIV).
No caso em que se é colocado ante a alternativa, ou morrer ou apostatar da fé católica, o cristão tem que escolher a morte e os tormentos que lhe são infligidos.
A prova de que uma pessoa é mártir, é o entregar sua vida sem resistência aos algozes. O que não quer dizer que os católicos não possam resistir e se defenderem. Os que resistem e se defendem, conforme o caso, podem até ser santos. Poderão até ser canonizados. Em certas circunstâncias pode até haver obrigação de se defender, por exemplo, quando da conservação da própria vida depende evitar uma profanação ao Santíssimo Sacramento. Porém os que assim agem não são mártires no sentido estrito. O martírio é uma graça específica, e muito alta, que Deus dá a alguns, mas que não exige de todos.
Por que a Igreja só canoniza como mártires os que não se defenderam? Porque aquele que se defende e resiste, pode fazê-lo por amor à Fé, mas pode também fazê-lo pelo sentimento natural de conservação da própria vida. Este último sentimento, embora legítimo, não caracteriza o martírio. Ora, como a Igreja não tem meios de conhecer os sentimentos interiores da alma do católico que morreu se defendendo, ela não pode canonizá-lo. Ao passo que, aquele que poderia ter salvo sua vida renunciando à sua Fé ou defendendo-se, e não o fez, dá uma prova evidente de que era movido por amor à Fé.
Os primeiros cristãos, embora perseguidos por causa de sua fé, ou de suas virtudes, não tramavam uma revolta coletiva, uma revolução, para derrubar as autoridades pagãs. Eles procuravam conquistar o Império para a Fé, através das orações, da pregação, mas, sobretudo dando o testemunho do martírio.
Nota-se que houve uma moção do Espírito Santo para que, em conjunto, eles agissem assim. Foi diferente, por exemplo, no tempo das Cruzadas, em que o sopro do Espírito Santo movia os cruzados à luta. Não foi por meios violentos que Deus quis implantar a semente inicial do Cristianismo. Mas pela oração e pregação coroadas pelo testemunho de tal quantidade de mártires, quis mostrar a incomparável superioridade da Religião de Cristo, que forjava homens, mulheres e crianças da têmpera daqueles que passavam por tormentos atrozes e empenhavam a vida por amor a Deus, dando heroico testemunho de Cristo.
O Catecismo da Igreja Católica define o que é Martírio:
2473.O martírio e o supremo testemunho prestado a verdade da fé; designa um testemunho que vai ate a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina crista. Enfrenta a morte num ato de fortaleza. "Deixai-me ser comida das feras. E por elas que me será concedido chegar ate Deus."
2474.Com o maior cuidado, a Igreja recolheu as lembranças daqueles que foram até o fim para testemunhar a fé. São as "Atas dos Mártires" (Acta Martyrum). Constituem os arquivos da Verdade escritos em letras de sangue: De nada me servirão os encantos do mundo e dos remos deste século. Melhor para mim é morrer (para me unir) a Cristo Jesus do que reinar até as extremidades da terra. E a Ele, que morreu por nós, que eu procuro; e a Ele, que ressuscitou por nos, que eu quero.
Aproxima-se o momento em que serei gerado... .
Eu vos bendigo por me terdes julgado digno desse dia e dessa hora, digno de ser contado no número dos vossos mártires... Guardastes vossa promessa, Deus da fidelidade e da verdade. Por essa graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico pelo eterno e celeste sumo sacerdote, Jesus Cristo vosso Filho bem-amado. Por Ele, que esta convosco e com o Espirito, vos seja dada gloria, agora e por todos os séculos. Amém.